terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Transpiração.

mas sou cria dos terreiros esfumaçados
das alas psiquiátricas
das madrugadas derramadas de bar em bar
dos rumos perdidos
dos peitos perfumados de prostitutas encapetadas
virei macho nas brigas de faca ou
de torcida
fugindo da polícia
no choro triste das morenas enfeitadas de solidão
conheci o amor
e bêbado fiz brotar poesia depois duma surra
que tomei na rua
vi a noite encenar seus dramas
suas tragédias
suas peças alegres e obscenas
e esperei uma mulher sem coração
aflito
de cabelo penteado e com minha
camisa colorida
pra receber migalhas de paixão
mas o céu testemunhou meu encanto
e choveu pra disfarçar meu pranto
foi numa quarta-feira que perdi o futebol por ela

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Capucheta.

hoje sonhei com sete estrelas no céu da sua boca
logo eu que sempre perco a hora e as apostas
janeiro é chuva e sol
e minhas visitas intimas são todas de noite
me oferecem seios, bocas, coxas e drinques
no test-drive do sexo
não importa os motivos
os apelidos
só feche a porta da sala ao sair sorrateira
e deixe duas bombas nucleares de baixo da minha cama
as vezes me encanto com os enganos
perco o sono
me pego sonhando acordado olhando pra janela
quase triste de saudade
torcendo pra não esquecer o semblante daquela morena
Carolina
no dia que eu tava com outra menina
e o lsd fervia minhas ideias
num canto escuro do lado do palco
acho que me apaixonei e tomei treze latões de cerveja quando cheguei em casa
a Ana pelada na cama
como uma princesa drogada
boca desbotada
janeiro é chuva e sol Carolina

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Mariana.

solta o cabelo
maquia a chuva
se entristece por Aleppo
me prefere bêbado
e conta as badaladas do sino
tem um ex que chama Renato
e outro que chama Tiago
deixa os copos marcados de batom
e tira meus livros do lugar
admite que já fez sexo pelo telefone
quer saber a quantia exata de carros que roubei
coisas sobre o tempo que passei em coma
e sobre meus amigos do PCC
sem enfeites
põe a teta pra fora do sutiã
boto funk ela muda pra Adoniran
explica posições tântricas
enquanto procuro sua boceta com a boca
debruçada fala de tudo que viveu
dos amores
de quantos caras brocharam
das viagens
dos porres
assim com a boca nua
me mostra toda sua intimidade
como uma criança descalça no quintal
eu bebo agarrado ao verão
como um gato indecente
que se entrega a qualquer tentação

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A Filha do Baltazar.

era pra ser lindo
como uma lua morta dentro de um aquário
sob essas chuvas de verão
que disfarçam o calor dentro da sua calcinha
umas caipirinhas no quarto
sem a química derradeira
pois estou tentando ficar um tempo limpo
só pra terminar meu livro
homens bons não te atraem
vi teus olhos brilharem quando contei que sou um filho da puta
e mordi a beira da tua bunda
desmanchei sua realidade com mais caipirinha
(tenho problemas com álcool, é de família)
você se mostrou depravada demais garota
e eu gostei de te ver cantando as sacanagens
depois
bem depois
percebi teu cheiro bom em minha cama
e me peguei sonhando acordado
quase apaixonado
por você

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Carlos do Pó.

eu sempre espero um milagre neurológico
e nunca sorrio  nas fotos
quase sempre bêbado ultrapasso os limites
xingo meus amigos
faço dívidas em biqueiras
transo com mulheres erradas
e afago cães de rua
essa ânsia de querer a porra toda
sempre mais
entregue a violência de viver sem paz
roleta-russa é fugir de polícia
poesia é uma noite quente
regada a sexo, droga e aguardente
enquanto amores vem e vão
ponteiros sem perdão
é o tempo
do lado de dentro do espelho
maquinando golpes e trapaças
eu torço pra madrugada passar devagar
e te digo com a voz enrolada
que o amanhã ainda nem existe
e você se veste despreocupada com a vida
cores escorregando pelas suas pernas tatuadas
você é um desenho animado pornográfico
e eu tenho um 38 no guarda roupas
por pura vaidade

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Carteira, Camisa e Relógio.

Maria Rita se mistura com a noite
disfarça entre copos de cerveja e fumaça de cigarro
ela é um atentado ao pudor
que viola meus olhos
me falta fé
mas me sobra dinheiro do tráfico de cocaína
peco nas suas coxas mestiças
desgraça
á espreita quando a polícia passa
e só sofre de amor quem ama
Maria Rita não acredita nessas coisas
e perde a postura arreganhada no quarto
o vício corrompe os homens
o sexo também
ela é dessas que chupa o pau do padre e diz amém
relato sobre trepadas, flores e madrugadas
não me importa a política e questões sociais
quantos irmãos decapitados em Manaus
Maria Rita me causa insônia
quando ela passeia sua bunda na minha cara
mil planos de carnaval
pra eu me perder no ácido e na sua carne surreal
mas eu sei que ela não é só uma vadia bem vestida
se o inferno for mesmo aqui
aproveito o horário de verão com Maria sorrindo
rebolando
e flertando com o diabo

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O Dia Que Meu Cachorro Comeu Cogumelos.

espero sua risada chegar
amassada e com cheiro de terra molhada
e toda vez que o seu celular vibra
eu morro calado de ciúmes
nas noites quentes de verão
reviro as minúcias da tua xota
pra prolongar as madrugadas com cerveja
te conto sobre os assaltos
sobre o coma e as coisas duras da vida
das drogas
dos preservativos furados
dos atabaques nas macumbas
do Exu na encruzilhada
porra garota
você é uma overdose de coca
uma latada numa manhã propícia pra se suicidar
mas eu gosto mesmo é de sexo, grana, funk e cachaça
e mijei na cama por acidente
o fato é que tem vida que só começa depois do expediente
simula a felicidade e enche o cu de tarja-preta
eu tentei te mostrar quando meu dedo tava na tua bunda
e o céu dançava vestido de preto lá fora
tenho alguns b.os pendentes
muitos vícios e problemas de montão
Clint Eastwood é brincadeira de criança
pra quem vive na beira do precipício
briga, chora, trafica e goza