Calça Remendada.

você parecia um sonho longo
iguais esses sonhos que a gente sonha quando dorme depois do almoço
sempre inquieta
mexendo em tudo
desarrumando as coisas
e bagunçando meu coração
você dizia que eu te chupava como uma sapatão
morena indecente e difícil de decifrar
que fazia yoga
mas cheirava pó de final de semana
as vezes brotava um sol radioativo do teu sorriso poluído
como uma pintura psicodélica nos azulejos da cozinha
contaminava minha alma na sala
fornicando
é, você tinha esse lado sujo
das rapidinhas no quintal
de me pedir dinheiro emprestado e nunca mais pagar
e de enfiar o dedo no meu rabo quando eu tava distraído
as vezes quando a noite demora pra acabar eu penso em você
e fico rindo da sua cara de garota problemática
imaginando quem será que você anda estragando
ou em qual grande encrenca você anda metida
não é sobre saudade
é mais sobre o medo que eu tenho de te conhecer em outras reencarnações
e você foder com a minha vida novamente

Barnabé.

não, eu não quero a salvação eterna dos cristãos
quero a vida embrulhada em papel crepom
sexo, cerveja e desenho animado na televisão
quero a porra da janela sempre aberta
pra eu poder ver deus pelado sambando no céu
quero que os mistérios da vida permaneçam ocultos
escondidos sob a manta negra dos segredos
quero também uma porção de perguntas sem respostas
a dúvida é a verdadeira benção
e verdades absolutas só satisfazem os caretas
quero que o tempo seja bondoso
que não nos foda tão rápido
quero que os amores sejam passageiros
e que as ressacas não durem um dia inteiro
quero bares abertos 24h
quero que as mulheres se libertem do sutiã
quero desfigurados os fascista de direita
e maconha com café toda manhã
quero putaria franciscana no sofá da sala
e ecstasy nos finais de semana
quero a porra toda bem na palma da minha mão
quero tudo
desde pecados
dinheiro, boquetes, nike air max
e apartamentos duplex
até o papa desfilando de salto alto

Bar do Seu Chico.

repare no nervosismo excêntrico do sol
bronzeando  raparigas na beira da piscina
decorando janelas e prostitutas na laje
ah, o sol
esse astro imponente e impiedoso
que desmancha as peles das morenas
e instiga o povo a tomar cerveja
como se fosse água
o sol
testemunha dos dramas contemporâneos
do suor clandestino
do sal presente nos corpos abundantes
e tropicais
das meninas de biquínis
o sol
que tempera o sexo
e adultera a libido da América Latina
que não descrimina
crente, preto, traficante ou viado
o sol
que reina intenso o dia todo por aqui
deus dos fetiches
e dos desejos
sol
eu adoro te ver sorrir...

Tábata da 5° Série.

eu já quis ganhar o mundo
com um revólver na mão
assaltando postos de gasolina na Murchid
eu já quis vender o mundo
em cápsulas de cocaína batizada
eu já quis foder com o mundo
com duas negas num quarto de motel barato
eu já quis boicotar o mundo
numa tentativa de suicídio frustada
que me custou caro demais
eu já quis explodir o mundo
com rojões e fogos de artifício
eu já quis o fim do mundo
mas remarquei o apocalipse pra terça-feira que vem
eu já quis entender o mundo
mas a mente do mundo é mais difícil de entender do que cabeça de mulher
eu já quis amar o mundo
com meditação transcendental  e incensos com cheiro  de bosta
eu já quis sentir o mundo
entrando em brigas pra perder de propósito
eu já quis salvar o mundo
mas eu estava ocupado demais fumando maconha
ou jogando bola
eu já quis fazer parte do mundo
mas o mundo não quis
e me deixou de fora

Dona Aurora.

anunciou a primavera

seu seio esquerdo em release

florindo meus deslizes de mantras idiotas

e sexo na varanda

paira sob a cabeça de qualquer filha da puta

temperaturas extremas e inconstantes

frio e calor na mesma semana

por baixo da tua saia é tudo quente 

como sempre

eu continuo um canalha auto de data

cafajeste tradicional

que te ganha na cerveja e no oral

e você

menina desatenta

passa despercebida pelas picuinhas do amor

carrega um buquê de flores tímidas no coração

prontas pra desabrochar 

e eu apenas desejo que você ame

um rapaz que cante pra você

morena...

Denise das Cápsulas.

no remendo dos momentos

guardei aquela fotografia de você mijando de porta aberta

distraída com as tetas de fora

procurando poesia nos ponteiros do relógio

sussurrando absurdos

comprando fiado nos bares do meu bairro

contando na ponta dos dedos quantas noites sem dormir

por minha causa

é que quando você queria me amar

eu tava na gandaia

e deixava seu amor sempre pra depois

então você chorava

e soluçava

e jurava pra você mesmo 

me esquecer

fui diagnosticado muito cedo cínico

e infiel

e isso você sabia

mas quando eu voltava da boêmia

sujo, cansado e de ressaca

você aparecia 

e se esquecia que pra me amar

era preciso anestesia