segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Sara da Dona Zelinda.

é que a sua pele parece ser tingida
de moreno místico
que hipnotiza meus olhos sedentos por diversão
e toda vez que a alça da sua blusinha cai
meu coração se enche de esperança
te descubro no tato
mesmo depois que o girassol morreu na minha janela
e você derrubou um copo de vodca com suco de uva no chão
ainda estou bem
deus opera milagres toda noite em mim
e sonho com seus seios derretidos em papel crepón
crianças bêbadas
altares incendiados e
Caetano Veloso beijando outro rapaz





terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Trinta e Cinco Centavos.

resgatei nossas sombras transando na parede
hoje há um girassol na minha janela
não respeitei seus sonhos de eternidade
eu disse que amores são passageiros
e te ensinei á embalar pó
sua ingenuidade ficou pelo caminho
conheci outras mas sem o seu carinho
tudo ficou meio vazio
mas nunca praguejei teu nome
fantasiei em segredo
com prostitutas e adolescentes
na sala
na cama
no meio da semana
sem tentar entender nada que me doía
me convencendo que o céu deixa tudo mais bonito
testei com a língua outras líbidos
e gozei no cabelo da Camila
tive medo de te esquecer
no final do ano passado
bebi demais e tomei um monte de bala
me comportei como uma criança down 
e dei vexame no natal
te procurei nas manchetes dos jornais
alguém me disse que era tarde demais e me faltou coragem pra assumir
não consegui chorar
desculpe querida
mas meu estado de graça
depende do crime e da quantidade de cachaça
só amor não me basta

sábado, 17 de dezembro de 2016

Nota de Dez.

você me mostrou um sol morto na palma de sua mão
o vento que espalhava as folhas na calçada
soprava teus cabelos também
depois do sexo
quando já era de noitinha
a chuva já não incomodava mais
pude ver seus olhos me cercando
todos os riscos
as dores esquecidas que ninguém fazia mais questão de lembrar
eu só queria ter alguém pra amar
e desobedecer meu instinto
esse bicho faminto que mora em mim
de todas as coisas infinitas na minha janela
você iluminava os minutos
e sorria de qualquer besteira que me contava
nessa nossa novela de melhores amigos
achei uma flor no teu umbigo
das minhas apostas perdidas
nas madrugadas de insônia
peço pra qualquer deus suicida
pra que você vá embora só quando for de dia
 outra vez

domingo, 11 de dezembro de 2016

Sombra na Calçada. Incêndio Dentro de Casa.

meu santo se enforcou
o seu eu nem sei
nos lugares românticos que ainda não fomos
das drogas que ainda não usamos
pensei em você e no jeito que seu olho muda de cor
mas ouvi sua banda preferida
e também pesquisei sobre seu signo e seu ascendente
invernei nos comprimidos de ecstasy
gozei na boca de outra garota
a noite apareceu cinza
choveu flores de seus olhos naquela foto
minha vida pareceu vazia diante das garrafas de vodca que bebi
é que espero uma armadilha do destino pra te encontrar
uma punhalada certeira no coração
e os clichês de todo amor
num novo tempo pra sorrir e namorar
e todas as outras coisas que o vento leva e traz
como um samba triste que só se canta bêbado

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Tangerina Azeda.

remontei minhas ilusões
domestiquei meus demônios
não me suicidei na lua nova
recolhi teus pedaços silenciosos
abandonados no guarda-roupa
mantive a dor em segredo
para crer num novo recomeço
aceitei outros amores
mas deixei o peito aberto
pra um dia te ouvir chegar de mansinho
espiando o tempo na janela
com amor hospedado nos olhos
a pele refletida no sol
esbanjando carisma, feitiço e mistério
meu desejo com o mesmo enredo vazio de pudor
continuo vadio
as alegorias usadas que você já conhece
os versos sujos
desenhando tua lembrança com o dedo
no box do banheiro
te esquecendo em doses mínimas
aos poucos
nas gotas de lsd
desatento troco teu nome
perdido no espelho
no choro escondido
no gozo incompreendido
das morenas que consolo
reparo brincos  e vestidos
deixo teu sorriso pra trás
trancado no quarto já não sonho mais

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Vespa Amarela.

como quando eu gastava toda minha grana
com droga e motel
e voltava pra casa como um cachorro
com o rabo no meio das pernas
antidepressivos não disfarçam o desespero
as vezes é como dar um gole pra criar coragem
foi assim no dia que enrolei a corda no pescoço
uma manhã de sexta
um mês em coma
não pedi ajuda
se tivesse pedido também não me escutariam
hoje os tempos são outros
e meu nome figura ainda em alguns processos
em algumas receitas de remédios controlados
esvaziaram os pneus da cadeira de rodas
é a mesma história de antes
nos letreiros luminosos dos enforcados
inventaram você para mim
pra te confundir
pra me consumir
minha confusão mental em noites claras
quando eu desapareço de mim  mesmo
e das mulheres
nos relâmpagos epiléticos
nos sonhos e nos beijos

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Tabuada do 7.

seu nome deveria estar em todos os meus boletins de ocorrência
pichado em cada boca de fumo que frequentei
em todo banheiro sujismundo dos botecos que eu ia
seu sorriso deveria estar estampado em todos papéis que tomei
desenhado com batom nos azulejos da cozinha
nos semáforos hipnóticos na rua daquela igreja evangélica
deus deveria acariciar seu sexo com a boca
sua carne deveria ser proibida na quaresma
do peito descoberto que eu espiava como um anjo rejeitado
sua malícia deveria ser passada de mãe pra filha
igual receita de bolo
e eu não deveria ter entregado
seus brincos
colares e
aquele seu óculos de sol
que tua amiga veio buscar aqui