segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Medula Sísmica.

nos instantes cronometrados
alguns segundos que escorrem pelo relógio
ponteiros derretidos desafiam o efeito lógico
e a estranheza surreal do ácido
sem futuro, nem passado
em mim só existe o agora
como se eu fosse parte integrante do quadro 
"a persistência da memória"
muitos corações em desalinho
dançam as putas nesse festival da carne em declínio
sorri o menino
sonhos e ebós  nas encruzilhadas
onde o santo fuma e bebe cachaça
eu me entrego
você se entrega se quiser
de peito aberto eu sinto o perfume radioativo 
aqui deus é mulher
e abençoa nossas manguaças
entende nossas recaídas cinematográficas
e alivia nossas frequentes ressacas
há quem forneça anestesia para os anjos caídos
venenos clássicos e primitivos 
não fazem distinção entre europeus ou latinos
positivo ou negativo
enquanto enchem os bolsos dos patrões
patrocinadores do vício
seguros pela imunidade parlamentar
governam bem longe do risco
dó, ré, mi, fa, só
ninguém mais lembra do helicóptero lotado de pó
depois chora a mãe do menino
sem saber da onde veio  o tiro