quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Cabrobó.

minha paz que andou poluída 
cinza e esquecida
fui refém dos vícios e das apostas perdidas
mas não contei nada sobre os enigmas 
nem sobre os desejos proibidos
e muito menos sobre o suicídio
ou pelo menos sobre o fracasso da tentativa
esbocei desenhos e sorrisos por algumas paixões
não muito mais que isso
é que passo a vida contemplando bundas e precipícios
bêbado como Dionizio
mantive sigilo sobre meus crimes
discreto como um epilético
menti e arquitetei apocalipses 
calmo, calado e antipático
observei cético sua fotografia no porta-retrato
o brilho pornográfico que ressalta dos teus olhos
seu sorriso pagão
a linha cruzada que a cigana não leu na palma da tua mão
seus fetiches ocultos
suas vontades fúteis e banais
e todas as cicatrizes que você esconde
só pra fingir que não te dói mais