quinta-feira, 22 de maio de 2014

Frevo do Crime.

Uma vez um garoto me disse que queria muito comer
uma pretinha do bairro,
eu sempre vendia pó pra esse garoto
e sempre comia a pretinha que ele
queria muito
comer.
Um dia o garoto me viu com a pretinha
ele ficou meio encanado
comigo
já não cheirava meu pó
nem andava na
mesma calçada que eu
eu não entendia a reação daquele garoto
ele nem me cumprimentava mais.
Até que um dia esse garoto me viu com outra pretinha
mais bonita
que aquela que queria muito
comer
ele chegou até mim mais humilde que a própria humildade e disse com
seu jeito de malandro  juvenil: - Mano eu achei que cê tava puto comigo.
Eu surpreso ao ver ele vir falar comigo no samba, perguntei:
- E ai menino porque eu ia ta puto com você? Cê viro polícia?
Ele riu e disse: - Polícia jamais.
- Então eu não to puto com você não cara. Relaxa.
Ele insistiu no meu ouvido: - Meu mas e aquela nega que eu era doido pra come até te falei e do nada eu soube que cê ta comendo a preta cara, eu pensei que cê ia me matar.
Eu tava chapado de maconha e cerveja, não estava cheirando e disse pra ele:
- Mano presta atenção no tanto de mulher bonita que tem aqui, eu queria dormir com todas elas hoje mas hoje eu vou dormir com essa aqui.
- Hum.
Ele resmungou sem entender, eu continuei:
- Meu coração é grande maluco e aquela nega lá todo mundo quer comer. Pode da ideia lá mano ninguém é dono de ninguém não.
Alguns meses depois
eu
soube que esse garoto tinha pego
dez anos de cadeia por formação de quadrilha,
sequestro,
assalto a mão armada e outras acusações dignas
de um bandido nato.
Ele ganhou meu respeito pelos
seus crimes
eu só lamentei ele não ter comido a pretinha que eu comia.

                                                      Para Pedrinho.