domingo, 28 de junho de 2020

Canavial.

tem essa boca
esse sorriso 
essa cor mistica 
de Oxum com espelho na mão
que transborda elegância ancestral 
das rainhas pretas
e passeia descalça sobre meu coração
tem essa pele escura
essa fome de amor e poder
fruta madura na árvore da vida
pronta pra ser mordida
tem esses traços suaves
líricos
e encantados
essa poesia que sai de dentro do meu peito
toda vez que te vejo
rodeada de cores cintilantes
ela existe
como nenhuma outra existiu antes

1966.

desmistifico tua sombra nua na parede
monto e desmonto as peças do seu sexo
controverso de geminiana
que desrespeita todos os semáforos do universo
negligente e esotérica
vislumbra sonhos simples
de véu e grinalda
e outra porção de coisas banais
enfeita o céu do meu bairro
com supernovas que traz na bolsa
fala comigo sobre amor
orquídeas raras
e outras coisas que eu não entendo
é que sou só um cara normal
do pau mediano
que gosta de carnaval
futebol e putaria
e você, baby
vê coisas que os olhos não podem ver
inunda sua pele
com todos os sentimentos do mundo
tem a alma aguçada pelos amores eternos
e outros clichês de novela
por isso me tire dos seus planos
minha pequena
sou real demais
pra essa sua utopia transcendental
de felizes para sempre
etc e tal

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Duas Bonecas e Um Pônei Encantado.

danço o  tango das diabas
das donzelas suadas
que convulsionam rebolados 
sob o sol dos malandros
e dos velhos tarados
danço a ciranda das indecentes
no festival de quem fode muito e pouco sente
sou atropelado pelas horas
e ninguém entende a má conduta de quem ama 
a velha história das esposas infiéis
e dos maridos doentes
abençoadas sejam as lazarentas
as raparigas dissimuladas
e as damas imorais dos bares e madrugadas
com seus sexos xerocados 
são todas cartas do mesmo baralho
danço o bolero dos excessos
dos porquês autodestrutivos dos vícios 
rezo o terço das santas do pau oco
da pombo-gira narcisista
da marca do beijo no espelho
do riso 
e do risco 
no desbunde dos decotes
na tentação dos precipícios
eu celebro o pecado e o divino
com a mesma emoção de menino
que descobre a namorada nua 
pela primeira vez

terça-feira, 23 de junho de 2020

Embromadora.

com o olho clínico
examino de perto teu declínio
todas as merdas que você faz
e bota culpa em seu signo
com ascendente na puta que pariu
como um voyeur te assisto nua
pelo buraco da fechadura
decoro seus traços
seus beijos com gosto de halls preto
os boquetes
os abraços
é que você ainda brilha em meu céu 
como uma estrela morta a milhões de anos
que debocha
e ri do meu pau mole
conta meia dúzia de mentiras
que eu finjo que acredito
porque acho bonito seu sorriso
de quem presta menos que eu
dirige perdida pelas esquinas do universo
em busca de alguma fantasia
que dure só até o amanhecer
pelo prazer dos momentos passageiros
das drogas
das trepadas casuais nos banheiros
sujos
pelo contorno do seu corpo escuro
em alto relevo
moldado sobre o meu

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Jarro de Barro.

contraria o destino
toda vez que enche a cara
e me busca na porta de casa
os astros testemunham seus erros, baby
e não há deus que te console
com a boca cheia de perdões
e palavrões
se insinua
blasfema contra teus pais
me insulta
diz que é a última vez
depois dessa nunca mais
se a sua carne é fraca
a minha também
você que não gosta dos meus sambas antigos
mas me chama de "meu bem"
com os olhos mestiços
encharcados de mágoa
e de amor não correspondido
sem roupas você me desconcerta
e deve estar certa quando diz
que eu sou apenas um menino vadio
com cheiro de xota na cara
que descarta sentimentos em troca de farra
mas é que eu já ressuscitei
e só eu sei
qual é o preço de  se viver duas vezes
sem precisar morrer

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Califórnia.

seus segredos todos guardados atrás da porta
controversa
e dissimulada
seu nome sujo na praça
imaginando desgraças
com os olhos pousados no retrovisor
desfruta do quarto de motel barato
princesa vulgar dos inválidos
sua mãe com cirrose
seu pai não existe
como cristo loiro e triste
dos crentes castos e abstêmios
morena radioativa
remarca o apocalipse para o próximo domingo
devota de Maria Padilha
que só goza por cima
felina soberba
rasga minha boca no beijo
com gosto de cerveja
eu perdido no meio de suas coxas grossas
sussurrando mandingas silenciosas
pra não ser decifrado
pra você não entender tudo que eu falo
incapaz de resistir ao cruzar das suas pernas
celebrando suas indecências de adolescente
sob o sol quente de inverno
e das incontáveis tardes eternas
em que eu fico a mercê
de você

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Virgo.

tem essa curva rara em seu sorriso
formas geométricas escondidas em seu vestido 
de renda
e no teto de seu quarto 
estrelas fluorescentes
nas noites de insônia 
eu te hipnotizo
e recomendo siririca
quando você deseja ir além do céu
e do que os olhos podem ver
te apresento algum sintético
e te provo que é possível sonhar de olhos abertos
e quando violo teus ouvidos
com sacanagens diferentes
você se rende 
e me entrega seus seios 
seu ventre
seu corpo
embrulhado em papel de presente
quando sua carne grita
num pout-pourri de desejos
você goza num lampejo
sua pele brilha cintilante
e ilumina a cama
a rua
o bairro todo
toda vez que deus te vê 
nua

terça-feira, 9 de junho de 2020

Kelinara Explode Coração.

pra te compor
seus pedaços miúdos
na eternidade dos minutos
pra traduzir seus sonhos perdidos no travesseiro
no ritmo triste de um bolero
batom em seus lábios
e flores na barriga
no jogo dos búzios
seu destino caprichado
jeans novos e namorados
pra enganar o tempo
rasga as folhas do calendário
associa crime com poesia
dorflex e cocaína
expõe a bunda
e esconde o rosto nas fotografias
aplaude travestis nas esquinas
duvida dos amores verdadeiros
pra te desconcertar
te viro do avesso
minto o  nome de minha mãe
digo que não tenho outras
e que acredito em deus
pra te fazer gozar
questiono seu tesão
testo sua líbido de verão
vasculho seu corpo moreno
atrás de detalhes pequenos
curvas e dobras que nenhum cara encontrou
só pra ver seu sorriso cego
e bobo
de quem nunca amou

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Caldo de Feijão.

seus olhos cínicos
testemunham a aura dourada 
que rodeia teu corpo abstrato
se movimentando na valsa dos falsos
brilhando o crucifixo de ouro
em seu pescoço
sorrindo e reclamando de tudo
seu amor de surdo e mudo
que gesticula com as mãos
pedindo carona na contra-mão da razão
escandaliza manhãs e retinas
e namora as vitrines
apalpa manequins
na sombra mais escura do quarto
se desmancha inteira
desmonta seu peito de lego
e deseja uma viagem intensa
digna dos sintéticos de antigamente
revira a gaveta de meia
atrás de um diário em branco
só pra me provar 
que a vida precisa ser vivida
antes de ser escrita
depois me chama de querido
esboça um sorriso
fecha a cortina 
e me engole num beijo brutal
me provando
que a beleza da vida de verdade
é não ter sentido

segunda-feira, 1 de junho de 2020

O Pai da Bia.

ela é a poesia que me escapa por entre os dedos
o último baseado perdido no bolso
da flor no cabelo
todos os detalhes dos sorrisos suspeitos
ela é qualquer samba bonito do Chico
das curvas líricas
do seio tímido escondido atrás do lençol
dos domingos
das cócegas no umbigo
ela é o beijo molhado
a amante de quatro
pedindo: - vem.
das deusas pagãs
ela é a magia
e o mistério oculto dentro de toda mulher
dos períodos  férteis
das lágrimas
do sangue vivo da costela de Adão
ela é a loucura doentia de toda paixão
do ciúme explícito
dos pelos
do cheiro de fêmea
no cio
ela é a miragem hipnótica
emoldurada dentro do espelho
do transe nos terreiros
ela é de carne
ventre
alma e coração