quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Pitanga e Cupuaçu.

o desejo que escapa por entre os dedos
todas as putarias imaginadas
presas dentro  de nossas cabeças
o afeto bêbado
o apego
o aspecto moreno de seu seio esquerdo
desliza descalça 
usando minha camiseta cavada
quando a gente virava madrugadas
trepando e boicotando o mundo
você dizia que o amor supera tudo
menos traição
cheirando a cerveja e Carolina Herrera
a boca pintada de batom vermelho paixão
sua pele bordada
tatuagem  de fada no braço
alma solta pelo quarto
e um demônio possuindo sua carne
incitando as vontades
insinuando metáforas eróticas
úmida e irracional
com a mesma loucura ancestral
que consumiu as prostitutas mais famosas da história
de Veronica Franco
Mata Hari
Hilda Furacão
até a boqueteira Divine Brown

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Despimguela.

a menina tem medo da luz apagada da cozinha
e no banheiro
confidencia seus desejos pro espelho
a menina espera
o próximo capítulo da novela
que o próximo namorado seja um príncipe encantado
e que o Bolsonaro morra engasgado
quando tá sozinha a menina canta
e dança
fica pelada na varanda
parece criança que brinca de ser mulher
as vezes a menina chora
as vezes ela erra
as vezes ela goza com a ponta dos dedos
coleciona sapatos
nudez e segredos
odeia alguns casos do passado
outros ela não esquece
e sente saudade do sexo, do toque e do cheiro
nem santa
nem profana
as vezes a menina sai com as amigas
e enche a cara
beija a boca de caras errados
da risada
ou da na calçada de casa
é que o coração da menina bate diferente
e ela se diverte imaginando sacanagens
mata aula da faculdade
e fica desenhando  picas enormes nos vidros dos carros
inconsequente
a menina sonha em ser menina pra sempre


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Barra-Forte Verde.

enalteci morenas e malandros
perdoei dívidas e traições
fui fiel a antiga honra dos ladrões
passeei por entre avenidas
e antros de alucinantes perdições 
escolhi os melhores pecados
não me regenerei
costurei meu destino
com a linha preta do suicídio
quando brinquei com a corda em meu pescoço
alguns dizem que não era minha hora
outros dizem que joguei minha vida fora
eu rio
toda vez que transo, bebo ou uso droga
não opino sobre o que não vivi
sobre o amanhã
sobre todas as manhãs que eu dormi
consumido pelas madrugadas pagãs
existe um pequeno diabo gente fina aqui dentro
beberrão, malcriado e barulhento
toda vez que eu olho no espelho ele me acena
e com o dedo médio em riste me dita poemas
desenha sonhos e desejos no meu travesseiro
e me mostra como a vida vale a pena
apesar dos problemas
ainda há cerveja, mulheres e fevereiros

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Envelope Vermelho.

desconexo converso sobre amor e sexo
acompanho seu vulto moreno
pelo reflexo do espelho
você que não gosta de pelos
e não entende meu lado hermético
é que o mundo tá cheio de canalhas
e todo adultério requer um pouco de classe
você sabe, mas não fala
estica a toalha molhada no varal
e espera passar o seu inferno astral
espera os milagres do calendário católico
páscoa, corpus-christi e natal
desmistifico seu destino de cigana sem família
que negocia sua herança em falsas pepitas 
e descobre novos prazeres com uma amiga lésbica
orgasmos legítimos e amores inférteis
diz que não se envolve com quem não bebe
"existe um mal oculto em todo homem são"
e eu sou seu diabo torto de estimação
escrevendo poemas catastróficos sobre seus peitos 
e sobre sua revolta anárquica contra as coisas chatas da vida
das novelas e dos suicídios
dos fuxicos das comadres que nunca olharam pro abismo
você se apega demais as minhas cicatrizes
e nas mentiras bonitas que eu cochicho
que florescem no teu ouvido
e enfeitam seu sorriso místico de Monalisa

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Medula Sísmica.

nos instantes cronometrados
alguns segundos que escorrem pelo relógio
ponteiros derretidos desafiam o efeito lógico
e a estranheza surreal do ácido
sem futuro, nem passado
em mim só existe o agora
como se eu fosse parte integrante do quadro 
"a persistência da memória"
muitos corações em desalinho
dançam as putas nesse festival da carne em declínio
sorri o menino
sonhos e ebós  nas encruzilhadas
onde o santo fuma e bebe cachaça
eu me entrego
você se entrega se quiser
de peito aberto eu sinto o perfume radioativo 
aqui deus é mulher
e abençoa nossas manguaças
entende nossas recaídas cinematográficas
e alivia nossas frequentes ressacas
há quem forneça anestesia para os anjos caídos
venenos clássicos e primitivos 
não fazem distinção entre europeus ou latinos
positivo ou negativo
enquanto enchem os bolsos dos patrões
patrocinadores do vício
seguros pela imunidade parlamentar
governam bem longe do risco
dó, ré, mi, fa, só
ninguém mais lembra do helicóptero lotado de pó
depois chora a mãe do menino
sem saber da onde veio  o tiro

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Catapulta, Cataclismo e Pata de Camelo.

veja só
quantas paixões esquecidas na minha calçada
tantos sentimentos sem sentido
tanta dor que a gente cura com cachaça
e ouve samba pra sofrer com elegância
mas eu sei que o amor não é um jogo perdido
e mesmo que você ame mil caras errados
sem medo de perder
na esperança cega de ganhar
percorrendo caminhos contrários
abrindo mão de tudo
sem se importar com nada
colecionando porres e trepadas mal dadas
tudo isso faz parte
todo mundo sabe que amar é uma arte
mas se o seu ficar coração cego, surdo e mudo
e quando amar se torna um absurdo
já não vale mais a pena
se o choro toma lugar do seu sorriso
te dou um conselho de amigo
procure outra paixão mais amena
algum homem gentil
nascido em abril
que entenda de crime
de sexo e filosofia
e que te mostre que você é apenas uma mulher
mas com gosto e jeito de poesia

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Vilela.

 resplandecem seus olhos vermelhos
enquanto o sol das três maltrata sua pele
suas marcas ainda estão em mim, meu bem
e eu fico bêbado toda vez que penso demais no teu sorriso
qual é o preço dos teus problemas?
tenho contatos, clientes
e amigos de índole duvidosa
espalhados pelos quatros cantos da cidade
e tem gente gente que não sabe da nossa missa
um terço
eu disfarço teu sexo a torto e a direito
e você sufoca meu peito
com sentimentos que não tem nome
como essas coisas que deus inventa
para seu bel-prazer
o amor
a noite
o perdão
a cerveja e a mulher
e quando sua boca me consome
mastiga pedaço á pedaço
tudo que um dia foi
hoje já não é mais
tudo vira cinzas e fumaça
o que resta é o nada
das nossas  almas incendiadas