Borboleta 88.

vejo o tempo massageando tua pele
acariciando teu ego
teus seios
e teus pelos
e tudo que você faz é sorrir
ri dos tropeços
das estrelas
e das segundas-feiras
mas sou eu que te estudo mudo
suas minúcias
flutuando nua
como se fosse a lua
suspensa no teto do meu quarto
e depois do banho
com o cabelo molhado cheirando a shampoo
com os olhos bordados de vermelho
menina risonha
que ama dar um trago no verde
e que chacoalha meu coração
não se preocupe
é quase verão
o sol já se anuncia sem cerimônias nas janelas
enquanto eu leio essas poesias escondidas no teu corpo
você adia a hora de ir embora
procurando no calendário um amanhã que demore mais pra chegar

Elvis dos Predinho.

se perpetua nua
em fotografias na frente do espelho
esboça sentimentos e segredos
em cartinhas escritas a mão
com preguiça
arruma atestado falso
e faz de sua vida um eterno feriado
desacreditada das paixões de verão
prefere o inverno
e homens feios
tem um passarinho preso numa gaiola
e um santinho de Jesus Cristo na carteira
as vezes corta o próprio cabelo
as vezes esquece de tomar seu remédio
as vezes sonha com um príncipe encantado
quando quer chorar
se refugia em qualquer banheiro
e quando ta com tédio
se flagela com a gillette
quando quer gozar
usa o dedo
mas não faz mistério
quando ama
se torna intensa
como um incêndio criminoso
que vai consumindo tudo que tiver pela frente

Bexiga Amarela de Festa de Criança.

seu corpo tem essa geografia popular
quase obscena
das morenas que tem o rabo grande
cheia de curvas
e lances esotéricos
que me instiga a arriscar tudo por um sorriso seu
e a cada aposta perdida
eu te conheço um pouco mais
sua marca de nascença
suas drogas preferidas
e tudo que você esconde por dentro do vestido
seus pedaços líricos
nas tardes de tédio
siririca no sofá
e ideias aleatórias sobre a vida
ao vivo você é um quadro realista
colorido e bem encorpado
que me lembra as putarias de carnaval
das orgias ao relento
trepando e bebendo no sereno
é que te aprecio nega
sou devoto dessa tua beleza escandalosa
que chama atenção dos meus amigos
e de todos os anjos depravados do céu
mas você sabe baby
meu coração é de zagueiro
e zagueiro não pode ter deus no coração

Samuel Engasgado.

carrega o misticismo das noites encantadas no ventre

molda meus sonhos com as tetas de fora

orquestra meus crimes 

e se contradiz toda vez que diz que me ama

se engana na cama de outros caras
com seus olhos míopes
olhos de fim de festa
conhece com intimidade
minhas tatuagens
minhas cicatrizes
não se entrega por capricho
ou remorsos de amores passados
flutua pela janela do meu quarto
e se impressiona com a lua gritando lá no alto
mas não se desespera
consciente
não espera nada de mim
mas antes que o mundo acabe
antes que sejamos apenas um retrato esquecido na gaveta da penteadeira
quero que você saiba
que em peito tem um espaço reservado
com teu nome escrito com giz de cera

Danone com Gengibre.

ela tem essas coisas
conta piadas que ninguém entende
conversa sozinha enquanto se maquia
e mija sempre de porta aberta
outro dia ela me perguntou se eu já fui na igreja
respondi que não
então ela num tom irônico e sórdido disse me olhando nos olhos
"eu não acredito em deus, mas só deus pode te ajudar"
eu não respondi nenhuma grosseria porque a gente ainda não tinha trepado
mas pensei em silêncio
"porque será que essa vadia maluca acha que eu preciso de ajuda?"
ela tem essas coisas
ela sabe constranger as pessoas
tem algo nela que caga e anda pra etiquetas sociais
as coisas dentro de sua cabeça parecem funcionar de um jeito diferente
as vezes eu penso que ela tem encosto
doença mental
ou qualquer coisa do tipo
sua sinceridade exagerada
seu jeito cru de dizer a verdade
sua aversão por caprichos românticos e picuinhas amorosas
montando e desmontando quebra-cabeças epiléticos
ela tem essas coisas
que me encantam
e ao mesmo tempo azedam meu coração
ela me confunde
e me deixa perdido
como se eu tivesse dançando balé com uma sapatão

Zé Ratão.

olhei pro mundo
com os olhos coloridos de criança
e vi o céu pintado com tinta guache
me disseram que quem ama demais
uma hora toma no cu
deixei o revólver escondido no banheiro
e revirei o espelho á procura de mim mesmo
o sol invadiu a sala
o quarto
minha alma
tudo
como um intruso
iluminou minha cara de bêbado desajustado
pra me sentir bonito
me virei do avesso
as vezes brotam flores aqui dentro
e eu sorrio pras coisas que valem a pena
como a bunda daquela morena
ácido de qualidade
e cerveja estupidamente gelada

Bóson de Higgs.

você é para mim um enigma
um objeto indecifrável em órbita no meu universo particular
que brilha
como uma estrela falecida
há bilhões de anos luz daqui
é quente
como um sol vivo na palma da minha mão
rodeada de fumaça e mistério
consome minhas noites com sexo e cerveja
engole meus sonhos
sempre tão pequenos e medíocres de grana, fama, droga e mais sexo
fantasiada de deus
me deixa fuçar no meio de suas pernas
e dita com cautela os caminhos pro teu orgasmo
me mostra qual é o gosto
de todos os átomos do teu corpo
garota cósmica
transcende sua beleza pra fora do reflexo do espelho
e embaralha todas as ideias vulgares na minha cabeça
carrega o mundo inteiro em seu seio esquerdo
e me promete o cu pra quando chegar o verão

Calça Remendada.

você parecia um sonho longo
iguais esses sonhos que a gente sonha quando dorme depois do almoço
sempre inquieta
mexendo em tudo
desarrumando as coisas
e bagunçando meu coração
você dizia que eu te chupava como uma sapatão
morena indecente e difícil de decifrar
que fazia yoga
mas cheirava pó de final de semana
as vezes brotava um sol radioativo do teu sorriso poluído
como uma pintura psicodélica nos azulejos da cozinha
contaminava minha alma na sala
fornicando
é, você tinha esse lado sujo
das rapidinhas no quintal
de me pedir dinheiro emprestado e nunca mais pagar
e de enfiar o dedo no meu rabo quando eu tava distraído
as vezes quando a noite demora pra acabar eu penso em você
e fico rindo da sua cara de garota problemática
imaginando quem será que você anda estragando
ou em qual grande encrenca você anda metida
não é sobre saudade
é mais sobre o medo que eu tenho de te conhecer em outras reencarnações
e você foder com a minha vida novamente

Barnabé.

não, eu não quero a salvação eterna dos cristãos
quero a vida embrulhada em papel crepom
sexo, cerveja e desenho animado na televisão
quero a porra da janela sempre aberta
pra eu poder ver deus pelado sambando no céu
quero que os mistérios da vida permaneçam ocultos
escondidos sob a manta negra dos segredos
quero também uma porção de perguntas sem respostas
a dúvida é a verdadeira benção
e verdades absolutas só satisfazem os caretas
quero que o tempo seja bondoso
que não nos foda tão rápido
quero que os amores sejam passageiros
e que as ressacas não durem um dia inteiro
quero bares abertos 24h
quero que as mulheres se libertem do sutiã
quero desfigurados os fascista de direita
e maconha com café toda manhã
quero putaria franciscana no sofá da sala
e ecstasy nos finais de semana
quero a porra toda bem na palma da minha mão
quero tudo
desde pecados
dinheiro, boquetes, nike air max
e apartamentos duplex
até o papa desfilando de salto alto

Bar do Seu Chico.

repare no nervosismo excêntrico do sol
bronzeando  raparigas na beira da piscina
decorando janelas e prostitutas na laje
ah, o sol
esse astro imponente e impiedoso
que desmancha as peles das morenas
e instiga o povo a tomar cerveja
como se fosse água
o sol
testemunha dos dramas contemporâneos
do suor clandestino
do sal presente nos corpos abundantes
e tropicais
das meninas de biquínis
o sol
que tempera o sexo
e adultera a libido da América Latina
que não descrimina
crente, preto, traficante ou viado
o sol
que reina intenso o dia todo por aqui
deus dos fetiches
e dos desejos
sol
eu adoro te ver sorrir...

Tábata da 5° Série.

eu já quis ganhar o mundo
com um revólver na mão
assaltando postos de gasolina na Murchid
eu já quis vender o mundo
em cápsulas de cocaína batizada
eu já quis foder com o mundo
com duas negas num quarto de motel barato
eu já quis boicotar o mundo
numa tentativa de suicídio frustada
que me custou caro demais
eu já quis explodir o mundo
com rojões e fogos de artifício
eu já quis o fim do mundo
mas remarquei o apocalipse pra terça-feira que vem
eu já quis entender o mundo
mas a mente do mundo é mais difícil de entender do que cabeça de mulher
eu já quis amar o mundo
com meditação transcendental  e incensos com cheiro  de bosta
eu já quis sentir o mundo
entrando em brigas pra perder de propósito
eu já quis salvar o mundo
mas eu estava ocupado demais fumando maconha
ou jogando bola
eu já quis fazer parte do mundo
mas o mundo não quis
e me deixou de fora

Dona Aurora.

anunciou a primavera

seu seio esquerdo em release

florindo meus deslizes de mantras idiotas

e sexo na varanda

paira sob a cabeça de qualquer filha da puta

temperaturas extremas e inconstantes

frio e calor na mesma semana

por baixo da tua saia é tudo quente 

como sempre

eu continuo um canalha auto de data

cafajeste tradicional

que te ganha na cerveja e no oral

e você

menina desatenta

passa despercebida pelas picuinhas do amor

carrega um buquê de flores tímidas no coração

prontas pra desabrochar 

e eu apenas desejo que você ame

um rapaz que cante pra você

morena...

Denise das Cápsulas.

no remendo dos momentos

guardei aquela fotografia de você mijando de porta aberta

distraída com as tetas de fora

procurando poesia nos ponteiros do relógio

sussurrando absurdos

comprando fiado nos bares do meu bairro

contando na ponta dos dedos quantas noites sem dormir

por minha causa

é que quando você queria me amar

eu tava na gandaia

e deixava seu amor sempre pra depois

então você chorava

e soluçava

e jurava pra você mesmo 

me esquecer

fui diagnosticado muito cedo cínico

e infiel

e isso você sabia

mas quando eu voltava da boêmia

sujo, cansado e de ressaca

você aparecia 

e se esquecia que pra me amar

era preciso anestesia

Caixa de Fósforos.

além  das cortinas
se escondem os sonhos dessas mulheres românticas
tingidas de azul infinito
das paixões quentes
do fogo no rabo
flertam com a promessa dos amores eternos
sorriem com febre nos portões
devotas de sentimentos á moda antiga
com capricho se enfeitam
á espera de seus príncipes encantados
se emocionam facilmente com livros, canções e novelas
sempre dispostas a se entregar
a se perder
a se achar
na arte de amar
amam com delicadeza
e na arte de sofrer
se desesperam com certeza
essas mulheres  que carregam o coração do lado de fora do peito
sempre perdoam demais
e mesmo feridas
machucadas
permanecem fiéis
sempre dispostas oferecem o ventre
pra germinar as sementes
do amor

Fábrica de Amor, Drogas e Dinheiro.

nunca tive tempo 

de te dizer as coisas bonitas 

que eu guardava aqui dentro só pra te dizer

mas é que você era como o vento

sempre indo e vindo

sempre rindo

e bebendo

e cheirando

pó

as vezes você esquecia

qualquer peça de roupa sua

aqui

e fazia questão de me confundir

com seus truques

e mentiras

seu jogo era sujo

e eu sabia muito bem

meu bem

e devia ser por isso que eu gostava tanto de você

- um ordinário reconhece o outro

você dizia

enquanto ria da minha cara de moleque bêbado e

apaixonado

depois você ia embora

com meu coração guardado dentro de sua bolsa

no fundo eu sabia

que você era um capricho que eu nunca poderia ter

Bakunin de Boteco.

espero o sol desmaiar no meio das suas pernas
seus beijos sufocam minha boca com gosto de cerveja
e meu bolso ta sempre cheio de narcótico e dinheiro
a gente sabe que as noites escondem um pouco de paixão e desespero
e você vê
o que outras garotas não querem enxergar
repara na borboleta colorida
tatuada no braço de outra menina
enfeitiça o espelho pra retocar a maquiagem
e se distrai com as músicas que tocam na rádio
marca o fim pra mais tarde
sem perder a classe mija no jardim
você continua a mesma
dando risada de coisas a toa
brincando com sentimentos e desejos esquecidos
e mesmo quando eu juro que te amo
você não da bola
enche meu copo e ignora minhas intenções sinceras
de filhos e casamento
feito onça pintada
você é arisca
e se esquiva de tudo que vem do coração

Sidney Magal.

reparei nas linhas coloridas que o seu sorriso tem
no contorno mítico dos seus seios
na tua presença ilusória e efêmera das noites de sexta
em tudo que você faz de propósito pra me convencer de que a vida é curta
e que devemos nos agarrar aos momentos
- paixões são como relâmpagos
você diz
brilhantes, intensos e duram quase nada
por isso eu preciso estar sempre atento
a você
porque basta um piscar de olhos pra eu te perder
como fumaça de cigarro
você escapa pela janela
escorre entre meus dedos suas curvas fabulosas
de morena criada na beira da piscina
e some mais bonita do que quando apareceu
pelas sombras das árvores na calçada
pelas esquinas
e encruzilhadas
mas esquece o rastro de seu perfume
espalhado pela casa
até desaparecer por completa
como se nunca tivesse existido
pra mim

Selva. LSD.

as paredes de meu quarto

minhas testemunhas oculares

dos planos sórdidos

de crime, sexo e dinheiro

as paredes de meu quarto

transpiram vivas

e conspiram comigo

sonhos demorados que as vezes se tornam reais

as paredes de meu quarto

dançam a ciranda das naves espaciais

que esqueceram de me buscar

as paredes de meu quarto

espiam minhas ideias subversivas

de poesia, cocaína e bombas napalm 

as paredes de meu quarto

pervertidas anônimas e silenciosas

cochicham entre si sobre as putarias que faço

minhas cúmplices leais

as paredes de meu quarto 

não discutem minha obsessão por morenas lazarentas,

boleros cubanos
e janelas sempre abertas

Rita Cadillac.

seus olhos míopes
revelavam toda confusão escondida  no fundo da minha alma torta
tuas mão frias de quem só dirigia com ar condicionado ligado
traçava novos destinos no meu corpo quente de passar o dia inteiro sem camisa debaixo do sol
tuas mentiras bonitas inspiradas nos romances de Machado de Assis fodiam meu coração
e me fazia de gato e sapato
me fazendo acreditar no seu jeito sádico de amar
sua voz massageava meu ego de moleque promíscuo
blefando com meus sonhos sem ter nenhuma carta boa na mão
sim, eu esperava você me amar
mas você mentia que vinha e não vinha
e eu te odiava por instantes
te xingava de vadia e prometia te esquecer
até você aparecer com seu sorriso lindo fingindo que nada aconteceu
mais ordinária que eu
me dava esmolas de prazer
eu me contentava com o pouco de você
seu jeito faceira de me traduzir
mexendo em tudo que eu guardava aqui dentro
brincando com meu prazer
por vaidade, vingança ou não sei o que
só pra depois desaparecer

Princesa Diana.

quando você queria falar sobre samba e poesia
com os sentimentos a flor da pele
eu te desmanchava em sorrisos cochichando qualquer putaria no teu ouvido
imprimia versos simpáticos no teu espírito antigo
e lambia teus beiços sabor chiclete de hortelã
pra te convencer a tomar as infinitas saideiras
prometia fidelidade e outras bobagens de novela que eu nunca poderia cumprir
- para nego
você dizia corada
e eu ria da sua inocência de menina que perdeu a virgindade  muito tarde
mas quando você aparecia triste
eu plantava contos de fadas na tua imaginação
só pro seu mundo ficar colorido outra vez
e de madrugada me mandava mensagem
dizendo estar com insônia
e eu te ensinava a gozar com o chuveirinho do banheiro
com a escova de cabelo
ou até mesmo com o travesseiro
te apresentava meu cardápio repleto de malícias
no outro dia você vinha
e me amava com a boca pintada de  batom vermelho mulher

Fátima Católica..

seu sangue é jovem

e jorra pelos lençóis de seus amantes

alguns são simpáticos

outros casados

eu gosto de imaginar seus gemidos ecoando pelas paredes desses motéis baratos

sua alma é livre de passarinho criado em gaiola

e você cheira á perfume importado 

Carolina Herrera

lingerie e salto alto

a cocaína te tira da fossa dos domingos

tenho seu vulto desenhado na palma de minha mão

os detalhes caprichosos do teu corpo

distante de qualquer razão

balançando seu rabo pornográfico na sacada do seu prédio

você é um mistério que perdura na cabeça de homens fracos

um paradoxo 

uma deusa bêbada e sem escrúpulos 

que deixa seu nome escrito com batom pelos banheiros de bares e boates

Emma Goldman dos Trópicos.

guardei meu mundo no bolso

pra te mostrar depois

deixei meus sonhos desmontados em cima da mesa

pra você brincar de quebra-cabeças

espiei a pinta no seu seio direito

e ri das suas piadas anti-bolsonaro

mesmo aflita tua alma grita

como uma garota subversiva

cheirando gasolina de coquetéis molotov

nessas horas meu coração palpita numa sinfonia ligeira 

e quase para de bater por você

teu espírito é revoltado por natureza

com teus olhos ateus você me olha e diz

- amor é outra coisa

e resiste ao acaso com sua blusa  de estampa de flores

menina mulher

anarquista sentimental

de beleza admirável

e sangue de guerrilha nas veias

que goza sempre na mesma posição

rouba meus livros e vai embora sem se despedir

como uma gata que entra e sai por qualquer lugar 

sorrateira

Elizeth Cardoso.

olho pela janela pra te procurar
vasculho espelhos retrovisores atrás de você
te busco nas minhas lembranças
sempre tão bonita
sorrindo seu sorriso místico
embaralhada no meio da minha memória fotográfica
se derramando pelas sombras epiléticas das luzes de neon
não me sobra teus resquícios
como um animal
farejo teu cheiro em outras mulheres
só por vaidade
por prazer
ou por falta de vergonha na cara
mas nunca acho
nenhum pedaço de você
tem horas que penso que a tua missão aqui na terra
foi desgraçar meu coração e desaparecer
assim como uma estrela cadente
rasgando meu céu
tão linda e efêmera
foi você

Sula Miranda.

foram umas doze cervejas
mais ou menos
e um pedaço daquele ácido
pra te descobrir ingênua
feito uma adolescente esperando o ônibus
que demora a chegar
você muda
de acordo com a lua
e se prepara para o fim do mundo
passa batom e maquiagem
renega o paraíso e cai na vadiagem comigo
menina
que ama o risco e brinca na beira do abismo
se disfarça de mulher
quando não quer pagar a conta do bar
e sempre planta um punhado de ilusões na minha cabeça
de lunático fugido do hospício
que fica esperando pelo seu beijo na calçada

Picuira.

admiro seu sorriso cínico
seu jeito manso de foder com minha vida
daí tem seus traços
seus seios
seus abraços
suas tatuagens espalhadas pelo teu corpo
e tudo que cê faz na frente do  espelho
de noite você me convence que o amanhã demora demais
e a madrugada corre lenta pelos teus pelos
é que no teu relógio biológico
o tempo passa diferente
decoro tudo em você
seus passos
orgasmos e suas mentiras esfarrapadas
morro de medo de você morrer cedo
e recomendo que se algum dia você estiver dirigindo bêbada
se por acaso atropelar um cachorro
tenha a decência de  prestar socorro
enquanto você muda meu mundo sem querer
eu te espero no sofá com o cabelo penteado pro lado
só pra você me achar bonito

Felisbino.

sou feito de cicatrizes
boletins de ocorrências
sequelas e histórias mal contadas
meu cheiro é bom
mas amo do jeito errado
ao contrário
sempre exagero na bebida
invento madrugadas e paixões de carnaval
sou feito de poesia
mas não sou poeta
já me meti em muita briga de torcida
já fugi da polícia
já me perdi nas coxas de mulheres dissimuladas
não minto por capricho
mas por necessidade
por vaidade
eu tinha um revólver escondido no banheiro do meu quarto
sou imoral
obcecado pelo céu
astros, estrelas
e drogas sintéticas
já escrevi nomes de namoradas com giz em mesas de bilhar
me apaixono pelos gostos
sorrisos
seios e temperos
me fascinam essas meninas que amam livros e
animais
porém, não me conheço
sou um mistério pra mim mesmo
tem coisas em mim que nem minha ressonância explica
já fui bandido
suicida
mas nunca depressivo
e se hoje pensam que to fodido
eu digo que acabei de nascer
sou apenas um menino
e quero tudo pra sempre

Diafragma.

você me prometia coisas que duravam só até o amanhecer
depois vestia a calcinha e ia embora
rindo com uma lata  de cerveja na mão
na verdade você me prometia quase nada
mas seu  pouco já me bastava
as vezes a gente se encontrava de final de semana
e enchíamos o cu de droga
juntos
e passávamos 2 ou 3 dias
na putaria intensa
das chácaras perdidas nas esquinas do universo
e eu te achava incrivelmente bonita
com seu ar de menina revoltada
que exige ser emancipada pelos pais
e insistia em amar só quem não te amava
as vezes você chorava
por tristeza
depressão
ou sei lá o que você escondia dentro de você
eu planejava ficar rico com o tráfico de cocaína
e te levar pra Cuba comigo
só pra te ver feliz
usando biquíni o ano inteiro
brilhando sob o sol intenso da América Latina

Santa Edwiges.

pouco importa os seus medos
ou traumas de amores do passado
não te falo sobre meu suicídio que deu errado
nem das confusões da época de ouro dos assaltos
e dos roubos de carros
acontece que eu bebo e amo demais
pois é querida
não sou o cara dos sonhos de garota nenhuma
passo noites em claro estudando seus seios
e seu sorriso
imaginando coisas bonitas
relacionadas a sexo e cerveja
não me importa o quanto seus ex-namorados foderam seu psicológico
nem se você fede depois de trepar
ou se você tem fetiches bissexuais
me mostra o que você vê quando se olha no espelho
as coisas que fazem seu coração bater diferente
que eu não ligo de correr perigo
só preciso que me conte o que sonhou na noite passada
que te levo comigo
pra dar um passeio na beira do meu abismo

Laura Cardoso.

deixa de lado esse teu pudor cristão

e senta no meu colo sem roupas

tome um porre e me liga de madrugada

só pra me xingar e dizer que me ama

fode comigo no pelo

me chame pra roubar um mercadinho

se sentir vontade de chorar e não quiser que eu veja

chore  no banheiro

me peça dinheiro emprestado

e não pague

me conquiste cruzando as pernas no sofá

mande fotos com as tetas de fora

quando não tiver mais assunto

me beije

senta na minha cara

e enche minha alma com a sua risada

deixe bilhetinhos pendurados na porta da geladeira

bagunce meus livros

e minha vida

me dê prejuízos

queime minhas roupas com a brasa das baganas  incendiárias

aborte nossos filhos

se quiser

enfie até o dedo no meu cu

mas não não brinque com a porra do meu coração

Eva Wilma.

é que seus olhos florescem no meu subconsciente

eu tento  esconder meu lado porra-loca

pra não te assustar

te apresento meu lado vulgar

com a sutileza de um homem apaixonado

finjo inocência

minto que bebo pouco

digo que não uso drogas

nego meus antecedentes criminais

e faço planos infalíveis e dissimulados

pra te  conquistar

viro teu escravo

teu capacho

arranjo trabalho

e não te largo nunca mais

só pra te fazer sorrir 

dedico poesias com teu  nome

capricho nas preliminares

e abandono o tráfico

durmo cedo

paro de mentir

te faço um filho

muito mais que isso

te dou num pacotinho embrulhado pra  presente

todo o amor do mundo

com flores e chocolate

Kate Moss.

você me ensinava sobre o prazer das mulheres
sobre siriricas e beijos no pescoço
você tinha o mundo na palma da mão
e escorria plena pelas madrugadas
com um sol adormecido dentro da calcinha
as vezes a gente conversava sobre o amor
e você tinha um jeito depravado de amar
reclamava quando eu demorava pra responder suas mensagens
depois me esquecia num porta retrato na escrivaninha
e toda vez que a gente se beijava
você pegava no meu pau pra ver se tava duro
acho que esse era seu termômetro
pra medir se as coisas entre nós estavam bem
com seus 20 e poucos anos
suas drogas escondidas na bolsa
e a mensalidade da faculdade sempre atrasada
perdida no meu mapa astral
com milhões de perguntas sem respostas
depilada
maquiada
você reinava soberana
nas minhas pupilas dilatadas pelo ácido

Sofia Coppola.

te viraria do avesso só pra
descobrir suas dobras escondidas
suas minúsculas cicatrizes perdidas por aí
esses detalhes que outros caras não conseguem enxergar
mas que fique claro
que não que não estou atrás
da sua paz
nem dos seus sujos segredos
te reviraria em busca de algo que talvez nem exista ainda
nas sobras do seu corpo
esparramado pelo sofá
no cheiro do seu cabelo impregnado no travesseiro
na sua silhueta nua na parede do quarto
nas coisas que você esconde dos seus pais
e me perderia no contorno bonito do seu sorriso
sem os remorsos corriqueiros dos romances de hoje em dia
mediria o tamanho dos seus sonhos de palmo á palmo
só pra te dizer que talvez o amor ainda exista
e te mostrar como o céu da Boa Vista
é bonito visto da minha janela

Leila Diniz.

engoliu o choro

e dolorosamente renegou o amor

encontrou no espelho

seu melhor parceiro

perfumada

saiu sozinha pra dançar

fez novas tatuagens

descobriu seu prazer na ponta do dedo

por medo e precaução

não amou de novo

não se deu ao luxo de sofrer por outro homem

mas se assustava com sua beleza escandalosa depois do banho

e dizia pra si mesma

- porra, como eu sou gostosa

depois lamentava seu péssimo gosto

em amar só caras errados

achava graça

da sua própria desgraça

mas lá no fundo seu único desejo

era ser amada com a mesma intensidade que amava

- reciprocidade existe?

ela se perguntava

culpando o destino 

e adiando seu suicídio pro próximo domingo

Marisa Orth.

há essas mulheres feitas de curvas sinuosas

sorrisos debochados

e traços grossos

queimando por dentro

amando em combustão

desenhando seus nomes no boxe do banheiro

contam suas mentiras coloridas
sussurradas no pé d'ouvido
essas mulheres de fartos decotes
e flores no umbigo
dos beijos ardidos
que se molham de desejo
das mãos cheias de carinho
dos olhos perdidos nas janelas
carregam o verão no ventre
e quando viradas do avesso
são brasas que ninguém apaga
essas mulheres cheias de mistério, carne e magia
debruçadas nos meus sonhos de menino
como deusas profanas
escondidas atrás das cortinas
espiando meus deslizes
meus pecados
meus vacilos...

Beth Faria.

profanei teus sonhos

cochichando sacanagens com a boca no teu umbigo

fui feliz nas dobras generosas do teu corpo bagunçado

seus pedaços mais bonitos espalhados pelo quarto

seu reflexo nu pelo reflexo no espelho do guarda-roupas embutido

seu coração em migalhas

esquecido por outro cara na Pedro Amaral

fui eu que provei teu sal

teus porres

teu inferno astral

teu sangue no meu lençol

teu período fértil

florescendo plena pelas primaveras de azulejos coloridos

fui eu...

Marieta Severo.

me ofereceu meia bala

junto do seu decote abstrato pra mexer com minha líbido

eu aceitei 

e como sempre mastiguei

pra sentir o amargo da vida 

na ponta da língua

você sorriu

enquanto eu imaginava suas tetas balançando

soltas entre as estrelas do céu

você é a porra de uma Vênus drogada

dançando na beira do abismo

flertando com a morte 

e sonhando acordada

como uma criança que brinca no quintal da vó

Claudia Ohana.

ela que dança sozinha 
acompanhada da lua
que voa livre e nua
sob as calçadas e
sob as cabeças de inúmeros homens desejosos
alguns mais
e outros menos
cretinos que eu
desprendida
ela sai impune das ressacas e dos desamores
e se esquiva dos olhos famintos te cercam
mulher da cabeça a sola dos pés
transita pelos meus sonhos
como uma primavera efêmera
que faz tudo florescer
depois passa
e quando eu decoro tuas fotografias
seu sorriso emoldurado na tela do meu celular
mas toda vez que eu escrevo
e ela não me lê
meu coração é servido num prato em miúdos
com pimenta e farofa

Vera Fischer.

você falava sobre como se sentia oprimida
por ter que usar sutiã
e como essa coisa de amor
sempre fodia seus casos
e reclamava dos seus pais
da sua irmã
até do seu cachorro
que balançava o rabo toda vez que me via
você preferia encher a cara e
trepar com caras desconhecidos nos finais de semana
e sodomizava meu coração todas as terças e quintas
mas apesar de tudo
eu sempre preferia você
mesmo quando você ligava de ressaca ou
de tpm
mesmo quando você se vestia de puta
pra abusar do meu lado Don Juan criminoso
e me fazia pagar sua conta do  bar
e das vezes que você fazia escândalo no meio da rua
no fundo eu te achava tão bonita
com toda aquela loucura
que acontecia só na sua cabeça
e no fim eu te amava
quando você fazia de tudo
pra não ser amada

Lindinha Biscate.

quando você demora
a lua peleja pra noite não ir embora
ansiosa te espera do lado de fora
dizem os astros
que grandes amores
nascem em madrugadas assim
com suas drogas no bolso da calça jeans
relâmpagos no breu
feita de instantes violentos
se entrega nos mínimos detalhes
no quarto escuro
farejo teus rastros de onça pintada
te encontro no anonimato
das trepadas casuais de 2 semanas ou mais
com seus olhos míopes
emoldurados na minha imaginação pervertida
na brisa do ácido de sexta passada
quando descobri seus desejos mais sujos
e duas cicatrizes perdidas na tua coxa esquerda

Coruja Diabo.

você que não esconde seu lado fêmea
no cio
e me mostra feliz
sua coleção de cicatrizes
com a boca pintada de vermelho
batom
desliza sorrateira sobre o lençol
e se perde em amores complexos
enigmáticos
cheios de tesão e sacanagens
seus olhos de fogos de artifício
explodem no céu estrelado da Boa Vista
você fode com maestria
e dita o caminho dos seus orgasmos apoteóticos
sua natureza felina grita
e depois desaparece nas pontas dos pés
menos menina
e mais mulher

Poligamia.

eu vi os semblantes alterados dos manequins desgostosos da vida
que permanecem imóveis nas vitrines iluminadas
todo mundo ama alguém
a gente só não sabe quem
tem o céu nos oferece verdadeiras viagens psicodélicas
com xoxotas cósmicas e tudo mais
repare bem querida
suas putarias de carnaval estão guardadas num vórtice de energia
transformadas em siriricas reais no sofá
seus sonhos são seus
você é bonita demais pra chorar o leite derramado
e cheira tão bem
com os olhos pequeninhos
olhos de passarinho
que pousa no meu peito
e bica meu coração enquanto durmo

Ameixa.

tem flores tatuadas em teu braço
com contornos coloridos na tua pele marrom
cê tem cor e cheiro de terra
molhada
passa horas perdida dentro do espelho
consumida em vaidade
á procura de anestesia
da um gole e olha pela janela
flutua sobre a cidade
diz que se entedia com caras perfeitos
e se encanta com os errados
mas o amor e a loucura não são uma ciência exata
as vezes te quero nua
outras te quero bêbada flertando com a lua

Travesseiro Azul.

você adia seu suicídio pra vir me ver
e me mostra detalhes escondidos em teu corpo
eu gosto de botar o ouvido no teu peito
pra ouvir as batidas violentas do teu coração
ainda guardo aquela fotografia nossa num porta-retrato imaginário
você é supersticiosa
mas trepa
na quaresma
se veste de apocalipse
e debruça na janela procurando deus
com os olhos bêbados de cerveja
e de ilusão
esperando o carnaval
a farra dos amores descartáveis
das alegorias
confetes e serpentinas
enquanto tua pele
derrete
na ponta da minha língua

Coisas Sobre a Lua.

esqueço os caminhos pelos quais você me faz sorrir
e traduzo teu corpo palmo á palmo
sigo o cheiro do teu cabelo depois do banho
minha retina brilha
respiro teu sexo
decoro tua moldura
teu reflexo pintado em meu espelho
nos beijos calmos de maracujá
da sua beleza desassossegada de cartões postais
nas intimidades dos casais
na ânsia que faz a gente querer sempre mais
sua alma neon em noites de epilepsia
deslizando sua sombra pelas paredes do quarto
tramando planos cósmicos de baixo dos lençóis
esquecendo as horas escorrendo pelos ponteiros do relógio
tão elegante
feito uma deusa egípcia
fazendo sonhos e amores transbordarem
como se fosse cerveja