domingo, 24 de janeiro de 2021

Macbeth.



o espelho denuncia
o algoz de semblante primitivo
reconhecendo em mim mesmo
meu próprio inimigo
com os olhos escuros
colecionando noites vazias
em busca de alívio ou anestesia
camuflando segundas intenções 
e outros mil convites para o crime
vestindo a fantasia que toda madrugada exige
as infinitas saideiras nos copos sujos da vida
na brutalidade dos amores violentos
que faz todo malandro sujar de sangue
sua camisa de time
da decadência sublime dos filmes
a beleza crua das manequins mortas nas vitrines  
e de meia dúzia de pecados diários
faço ode aos vícios
ás fodas mal dadas
e aos amores falidos
não há santo que me suporte 
outro gole, outro raio ou outro corte
outra madrugada entupindo o nariz
e desafiando a morte
cultivando amores abstratos
esse faz-de-conta temporário
com mulheres que tem preço
e data de validade
como flores de plástico brotando no quintal
no meu mundo surreal
das viagens sintéticas
é onde qualquer conto de fadas vira bacanal
e eu me vejo perdido
quando todo buraco na calçada se torna um abismo
mas esboço um sorriso
pra morena que bebe absinto
e planeja calada seu suicídio
desculpe,
é que minha poesia anda enferrujada
carente de tato
de pele e de grito