domingo, 30 de abril de 2017

Bar da Val.

você reclamava porque eu passava as tardes
de cueca no sofá vendo reprises de futebol
que quando saia com meus amigos
o papo era só boceta, crime, bola e droga
mas eu não liguei quando você mentiu e transou com sua amiga
e aquele dia que a gente chapo de md
te contei da garota do meu bairro
e que as vezes escrevia poesia ouvindo funk
te botei pra chupar 
você disse que precisava de um amor
eu queria me suicidar 
andava meio maluco
iria fugir pra Pernambuco
com dois quilos de cocaína
mas sua sensibilidade 
boicotava meus desejos vulgares
egoístas e
promíscuos
você acreditava em deus
eu acreditava na carne
como matéria corrompida 
presente nas orgias por mim promovidas
você passava esmalte nas unhas
e se raspava na minha frente
espalhando seu cheiro
pelo quarto inteiro
você disse que precisava de um amor
e eu não soube amar

sábado, 22 de abril de 2017

White Fufli.

esperei a madrugada
o fim da festa
pra ver seus olhos pintados de primavera
sombras coloridas se movimentando
nem todo céu é igual
do lado de fora de toda janela há corações
palpitando
vi seu seio esquerdo pular pra fora do sutiã
quando faltava pouco pra amanhecer
seu sorriso brilhava
e confundia meu prazer
eu que não gosto de frio
tirei a camisa
e renasci com a tua voz me parindo
contei os segundos pela metade
doido de ácido
busquei tua coxa com a mão
e descobri uma borboleta cintilante
compreendi o mês que passei em coma
gozei na sua sandália
antes do sol chegar em tons de roxo
imaginei uma poesia datilografada na sua barriga
e me preparei pra ressaca do lsd
querendo todas as cores vivas e obscenas
pregadas na tua pele

quinta-feira, 20 de abril de 2017

N.A.

a boca que me xinga
é a mesma que saliva de desejo
esconde atrás do espelho todos seus segredos
eu disse
- baby, sou imoral
e lambi do teu corpo
todo o sal
mas meus caminhos são tortos
pra borrar tua maquiagem
quando as estrelas dormiam no berço escuro
os bares fechavam suas portas
e nós existíamos um no outro
fiéis ao nossos vícios
ao sexo e
a dádiva dos riscos
eu disse
- baby, você vai procurar meu cheiro no corpo de outros caras
quando tudo acabar
e tudo que nos restar for um milhão de histórias
você sentirá falta do meu jeito de pecar
e das garrafas de vodca escondidas na minha dispensa

domingo, 16 de abril de 2017

João Paulo.

descobri um sol no final da tua rua
era domingo ou outro dia qualquer
e a gente esperava o dia passar de mansinho
pipas enfeitando o céu
seu cabelo tava solto
e as flores tatuadas em seu braço
anunciavam uma suposta primavera no meu coração
eu reparava seu sorriso bem feito
e pela sua blusinha colorida o formato do teu peito
o tempo passava com a gente sentado na calçada
fingindo que não existia tristeza
eram bonitos seus sonhos
dois pedaços de ácido
transformava a realidade com pinga e limão
vestidos de alegria num fim de tarde
quando todo poema de amor arde
descobri um sol no final da tua rua

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Monga.

ela aparecia com sua sombra desenhada nas paredes
feito bicho arredio
pregava as unhas nas minhas costas
em silêncio eu contava suas pintas
e decifrava teus olhares
ela se derramava no lençol branco
desbotava as cores azuladas das tardes monogâmicas
deixando pelo caminho a beleza dos minutos e
o tom da tua pele morena
eu resmungava Cartola no seu ouvido
ela desdenhava das minhas segundas intenções
e sorria lindamente
como uma Cleópatra indecente
me ganhava
rabiscava seu nome em qualquer papel
e me presenteava com o céu
num pequeno embrulho na  palma da tua mão
ela sabia das merdas que eu fazia quando ficava sozinho
e resolveu me deixar
...
tomei um porre
e chorei baixinho
escondido
pra deus não ouvir

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Danone.

minha mania de malandro
me fez trapacear demais e interrompi alguns sonhos
devemos saber que nas orgias
estamos sozinhos
pra mergulhar nesse universo proibido
tire as roupas e nade nu
pras contravenções cotidianas é necessário saber brigar
não renegue a próprio raça
a beira do precipício não é um lugar agradável de se caminhar pra alguns
minha linhagem carrega o caos envenenado e doente
nas entranhas e na navalha no dente
os enganados pelo céu
beije sarjetas
belisque as tetas das moças
beba mais um pouco
cachaça anestesia a alma dos incendiários
meu hobby preferido
sempre foi o suicídio
sem nem um pingo de medo
escolhi no cardápio meus pecados prediletos
e pichei meu nome nos muros da cidade
pra marcar minha passagem
como um cão mijando nos postes...