Gostei tanto de você da sua boca grande e farta,
das suas coxas grossas,
da sua pele negra que brilhava depois do banho e sua
bunda redonda e empinada
coloquei minha cara lá no meio
tantas
vezes. Quando eu te levava no samba
você sempre pegava na minha mão e ficava de
mãos dadas comigo,
ficava brava quando eu vendia pó com você perto,
me abraçava forte e dizia sacanagens
no meu
ouvido e eu te chamava de nega-
preta,
você esbanjava saúde, beleza e sensualidade.
Cê me contava dos problemas com
teu pai alcoólatra e que era filha
de Iansã, me prometeu um livro do Solano Trindade e não acreditava que eu preferia Lima Barreto ao invés de Machado de
Assis,
eu ficava te olhando dormir de bruços e sempre
ficava de pau duro
olhando tua bunda
aquele pedaço de carne redondo, escuro
e macio.
E a porra do tempo passa sempre
você passou numa universidade federal aí,
nós comemoramos juntos
eu te dei um vinil do
Baden Powell que achei num sebo
por 5 contos,
você mudou de cidade eu te esqueci
na bunda de
outras negras.
Pouco tempo depois eu tava no teu bairro
vendendo
pó
eu te vi passando
cê parecia aflita e eu não te chamei porque você não gostava que eu mexesse com cocaína com você
por perto,
na mesma noite eu soube que
teu pai
tinha morrido.