segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Maria da Graça.

se afoga
no copo de vodca com coca
desfila entre o paraíso e a perdição
com os olhos pintados de pecado
e o corpo quente de verão
renega seu sobrenome
sua herança
e me jura
de pés juntos
que se nada der certo
vira puta
não tem medo da rua
nem do escuro
não tem medo de nada
e as vezes mija na minha calçada
- é pra marcar território.
você diz
e me arrebata
com a voz rouca
enquanto tira o vestido
com seu jeito de disfarçar a libido
tampa o seio com travesseiro
você é só uma criança sem amigos na hora do recreio
diz que não usa relógio
só pra enganar o tempo
que pinta e borda momentos
essa sua mania de enfeitar as madrugadas
vive como se a vida fizesse algum sentido 
quando quer procriar
planta sementes de sonhos no meu umbigo
pra germinar numa outra reencarnação
num lugar distante
que tenha cachaça, droga e carnaval
onde deus seja mulher
e o sol se ponha na palma de sua mão

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Darlene da Feira.

esqueço seu rosto
suas dobras
a imagem dos seus seios de fora
seus traumas de infância
seus dramas sem causa
o cheiro da sua xoxota na minha cara
sua risada ecoando na madrugada
te esqueço pelo prazer
de te esquecer
só pra te lembrar depois
e depois
pois com você eu quero tudo
e não quero nada
minhas paixões são todas no plural
eu aprecio o visual
sua juventude  é efêmera e decadente
enquanto a lua testemunha suas loucuras
a gente fuma
fode e as vezes sonha juntos
nesse nosso barato casual
você estuda as minúcias do meu mapa astral
eu desvendo teu corpo
teus gostos
com quantos caras você transou antes de agosto
garota profana
que desmarca compromissos e suicídios
pra vir me ver
e bagunça meus delírios de cine-privê
enquanto o mundo acaba
do lado de lá da janela
aqui dentro você me usa
e eu uso você