terça-feira, 31 de outubro de 2017

Darci do Alho.

notei seus novos arranjos
seu sorriso continua moreno
seus seios pequenos expostos na janela
quase morri de saudades
dos teus olhos mestiços
do teu jeito infame de menina problemática
revirando as noites
é que esperei por você
morto sob o sol de domingo
e agora você reaparece com sua nova tatuagem
suas histórias malucas
me encantando novamente
fazendo de mim seu bicho de estimação
fantasiada de verão
penteando seus cabelos com os dedos
como um passarinho pronto pra voar
outra vez

domingo, 22 de outubro de 2017

Dagomar Cheirador de Loló.

a noite ainda me beija
e flerta comigo
do lado de lá da janela
sussurra no pé do meu ouvido
"vem"
insinua as velhas putarias
as drogas e os amores
pinta meus sonhos com mil cores
a noite ainda me convida
incita os melhores pecados do cardápio de deus
vestida de preto
enfeitada com estrelas
a noite ainda grita meu nome no portão
com um copo de cerveja na mão
a noite ainda é mistério
nos olhos negros das morenas feitiço
desliza o sereno pelos cabelos negros
e desenha melodias noturnas pelos corpos sinuosos
a noite ainda me faz feliz
descarada me manipula como uma atriz
berço dos malditos
dos ébrios e desregrados
reduto das putas e dos vagabundos
a noite ainda é a personagem mais charmosa dos subúrbios

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Ademir Bicheiro.

falava sobre os naipes sagrados do seu baralho
blefava com um par de ases entre as pernas
mas eu já te conhecia
e sabia quando você fingia
nas apostas e em alguns orgasmos
pelada compensava todos meus crimes do passado
seu jogo de cartas marcadas
profissional em manipular meu coração
incrivelmente instável
furtava as horas do horário de verão
e dizia que pau nenhum era melhor que seus dedos
passava dias desaparecida
e voltava refeita
mais bonita que da última vez
com dinheiro na bolsa
brilhava sozinha
eu era apenas mais um bibelo sem importância na sua penteadeira
era tudo que eu poderia ser pra você
até te imagino rindo
me chamando de objeto inútil e sem valor

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Manoel Padeiro e Adicto.

quando ela vem
todas as vezes cheirando a café e soluços
contando seus absurdos
cabelo preso
ferida aberta e pele tatuada
agarrada ao céu azul decadente
fotografando tudo
acreditando em nada
uma menina fingindo ser forte pra enganar a morte
e eu que nunca sei do teu período fértil
prometo coisas em vão
só pra te consolar
enquanto a gente espera o verão
com o desejo suspenso na janela
envenenando a alma com imagens pornográficas
e trepadas sublimes
afinal de contas
deus não é testemunha de nada
e os pecados da primavera não serão registrados no caderninho do juízo final         

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Leila Punheta.

é a vida
essa vadia que te fode
há dias que você se sente um bosta
e deseja ser mais uma vítima de Las Vegas
ou da Síria
é meu lado suicida que ainda grita
na lua nova sou mais um enforcado idiota
culpem o crime
as drogas
culpem minha mãe
ou me culpem por não ler a porra da bíblia
e só pensar em sexo e futebol
diga ás crianças que foi acidente
ou capricho meu
que sempre fui cachaceiro, mulherengo e ateu
todo mundo sabe que eu só teria futuro no tráfico
engraçado é que hoje sou meu próprio refém
carrasco de mim mesmo
sou só outro cara procurando problemas a esmo
pagando um preço alto pelas merdas feitas
enfeitando as sombras com confetes e serpentinas
pra disfarçar a solidão de domingo a tarde
tragédias acontecem todos os dias
e minhas sequelas são uma história a parte
apenas feche os olhos pra me ver