sexta-feira, 1 de julho de 2022

Número 33.

as vezes sua risada esquizofrênica impregna meu quarto
e quase ouço seus passos sorrateiros 
me trazendo outra cerveja
as vezes te vejo presa dentro do espelho
provando doses de seu próprio veneno
cantarolando indecências
as vezes te esqueço 
sua voz, seus traços
e o formato do seu seio esquerdo
viram lembranças perdidas no meu travesseiro
as vezes te encontro
perdida pelos bares da Santa Cruz 
ou da Boa Vista
tão bela quanto cínica
rebolando a bunda atrás de cocaína
e desenhando paus nas mesas de bilhar
as vezes te amo
enquanto você se faz tão difícil de amar
hermeticamente fechada
pra qualquer coisa que envolva seu coração
esse órgão morto e misterioso que bate sem jeito
dentro de seu peito
as vezes te confundo com outras
e desejo que você morra de tosse
porque eu sei que você não tem nenhum vestido
que combine com uma overdose.