terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Pêndulo Mental.

de calcinha no sofá
pinta as unhas de esmalte rosa chá
da um trago na baga haxixada
se esforça pra não chorar
ela sempre fica mais emotiva
um pouco antes de menstruar
assiste tv olha com os olhos perdidos
como se procurasse alguma pista
da vida que viveu um dia
dos amores apoteóticos
das fodas fixas de todas as quintas
das aventuras no love story
nua
transando no pelo
em praças públicas
ela me escuta
mas nunca ouve nada do que eu digo
com aquele ar triste
de menina que tem certeza que deus não existe
nota-se seu brilho ainda acesso
esconde no sorriso
a malícia
e as maravilhas de seu corpo
de 30 e poucos
o decote escandaloso
seu contorno suntuoso
dentes fortes
cicatrizes de quem já esteve no fundo do poço
e algumas poucas estrias
mas ainda há nela
aquela beleza bruta escondida
que ela faz questão de mostrar
só pra quem a aprecia
feito uma verdadeira obra prima
mesmo que esquecida
ainda existe nela o toque
do divino artista

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Bolha de Sabão.

contempla o invisível abusa do livre arbítrio remenda o tecido do tempo e sorrindo se esquece dos argumentos enquanto procura o isqueiro perdido dentro do universo infinito da sua bolsa gucci falsa dança a valsa imaginária e disfarça as cores simpáticas do dia e quando faz coisas que envergonham seu anjo da guarda
reza meia dúzia pai nosso como forma de pedir perdão
o verão repousa na palma da tua mão
e camaleoa você se adapta a cada estação
no mormaço da tarde você fica mais bonita
e se descobre mais mulher tirando fotos pelada
em frente ao espelho
brinca com o sol
e com o cachorro da vizinha
conta pequenas mentiras
que me causa taquicardia 
delira vestida de madrugada
de porre me liga pra reclamar e debochar
das pequenas coisas que ninguém vê
só eu e você,
e passeia nos sonhos que eu sonho
toda manhã
depois me acorda com um beijo
porque sabe que eu não te vejo
eu enxergo você

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Cabrobó.

minha paz que andou poluída 
cinza e esquecida
fui refém dos vícios e das apostas perdidas
mas não contei nada sobre os enigmas 
nem sobre os desejos proibidos
e muito menos sobre o suicídio
ou pelo menos sobre o fracasso da tentativa
esbocei desenhos e sorrisos por algumas paixões
não muito mais que isso
é que passo a vida contemplando bundas e precipícios
bêbado como Dionizio
mantive sigilo sobre meus crimes
discreto como um epilético
menti e arquitetei apocalipses 
calmo, calado e antipático
observei cético sua fotografia no porta-retrato
o brilho pornográfico que ressalta dos teus olhos
seu sorriso pagão
a linha cruzada que a cigana não leu na palma da tua mão
seus fetiches ocultos
suas vontades fúteis e banais
e todas as cicatrizes que você esconde
só pra fingir que não te dói mais

domingo, 24 de janeiro de 2021

Macbeth.



o espelho denuncia
o algoz de semblante primitivo
reconhecendo em mim mesmo
meu próprio inimigo
com os olhos escuros
colecionando noites vazias
em busca de alívio ou anestesia
camuflando segundas intenções 
e outros mil convites para o crime
vestindo a fantasia que toda madrugada exige
as infinitas saideiras nos copos sujos da vida
na brutalidade dos amores violentos
que faz todo malandro sujar de sangue
sua camisa de time
da decadência sublime dos filmes
a beleza crua das manequins mortas nas vitrines  
e de meia dúzia de pecados diários
faço ode aos vícios
ás fodas mal dadas
e aos amores falidos
não há santo que me suporte 
outro gole, outro raio ou outro corte
outra madrugada entupindo o nariz
e desafiando a morte
cultivando amores abstratos
esse faz-de-conta temporário
com mulheres que tem preço
e data de validade
como flores de plástico brotando no quintal
no meu mundo surreal
das viagens sintéticas
é onde qualquer conto de fadas vira bacanal
e eu me vejo perdido
quando todo buraco na calçada se torna um abismo
mas esboço um sorriso
pra morena que bebe absinto
e planeja calada seu suicídio
desculpe,
é que minha poesia anda enferrujada
carente de tato
de pele e de grito