terça-feira, 28 de abril de 2020

Azul Marinho.

o olho clínico
que admira as dobras cínicas do teu corpo
esticado sob o sol de domingo
o vazio em seu peito bordado
como os girassóis  nas toalhas de mesa
hipnotizada pelos remédios tarja preta
boca e boceta seca
mente tranquila e débil
você parece até uma vaca hindu
mascando chiclete
num transe elegante
monogamia
marido de pau mole
culto aos domingos
presa numa viagem longa de psicotrópico
alteraram sua realidade, baby
as vezes eu sonho
e vejo sua sombra viva
entrando pela  minha janela
chapada de ecstasy
colorindo céus
e roupas
com sua paleta de cores psicodélicas
bagunçando tudo
revirando meu mundo
desenhando pirocas gigantes nos muros
inventando moda
uísque com coca
ácido e astronomia
as vezes ainda ouço as pegadas
do que restou
desse animal brutal que mora dentro de você
passeando nua e embriagada pela casa

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Um Urso Polar Faminto Pode Se Tornar Canibal.

caminha sorrateira
entre o sofá e a geladeira
experimenta vestidos
homens e drogas
despreocupada com o mundo
suborna guardas
atropela gatos
e se afoga em mil copos sujos com cerveja
as vezes morre
as vezes sofre
as vezes se encontra perdida
e reconhece o inimigo dentro do espelho
resiste a ressacas como uma alcoólatra auto de data
adia amores 
e dívidas
é amante da noite
enfeite de estrelas
flerta em banheiros
quando a madrugada te da boas vindas
e você tira sua própria sombra pra dançar
sua retina brilha
em meio ao caos das mesas dos bares
seu paraíso explícito
rodeada de anjos bêbados e vulgares
onde todo garçom é um diabo cínico
incapaz de entender o lirismo de uma saideira

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Eleonor F.

faz pose de puta famosa
Bruna Surfistinha ou Maria do Egito
sensualizando em cenas imaginárias
no espelho do armário
perdida em plena era de aquário
se enrosca no travesseiro
seu parceiro íntimo sem carne e sem coração
suspeita das sombras noturnas no jardim sem flores
mas só dorme nua e com a janela aberta
se arrisca de unhas postiças
e aprecia essas tardes douradas e quentes
quando o sol se põe na palma da sua mão
e raios ultra-violetas escapam por entre seus dedos
cega tateia paredes e peles
debocha de quem não entende nada sobre sorrisos
e venenos
muda os móveis de lugar
guarda o gosto de outras bocas
na sua
e tira fotografias da lua
dos peitos
e das plantas
dança a ciranda dos indecentes
e das vadias
e na quaresma reza
pra que deus não exista

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Verbo e Fome.

você oscila entre a filosofia budista
e a cocaína
e parece ter certeza de tudo que não quer
filhos
homens de pinto pequeno
e bad-trips de  ácido
gosta de vodca com suco
banheiros de ladrilhos coloridos
feriados prolongados
e bronzeamento artificial
odeia que te chamem de querida
bêbada esquece de dar seta
faz ioga
coleciona relógios e cachimbos
mente pra sua psicologa
diz que não se droga
não trepa
e não pensa em suicídio
desperdiça saúde
e dinheiro no abismo perigoso
dos bares e madrugadas
acredita que a vida seja esse eterno rasgar-se
e remendar-se
mas sempre ri do ridículo
e acha hilário
mortes estúpidas
como a velha gorda que morreu afogada
numa piscina de plástico

terça-feira, 21 de abril de 2020

Estrupício.

analiso teu sorriso sem graça
de Monalisa emoldurada
seu sexo de empregada doméstica com tesão
igual a Carol em fim de festa
em seu transe pornográfico
monogâmico
quase cinematográfico
digna das picuinhas de quem só ama um por vez
de fidelidade e outras bobagens
sempre perde tempo escolhendo roupas
e estações de rádio
espera pelo próximo apocalipse do calendário
brinca com os restos do sol
e desconfia de seu instinto
toda vez que acorda de brinco
espalha meus sonhos pelo chão da sala
e esquece o cheiro de sua xoxota
em minha cara
suas bonecas foram todas mutiladas
e agora seu quarto amanhece todo dia
mais triste
porque o único enfeite em cima da cama
é você

terça-feira, 14 de abril de 2020

Sinfonia de Surdo e Mudo.

a eternidade escorre pela sua janela
toda vez que você se esquece de olhar pro relógio
e passa as tardes
perdida entre comerciais de tv
e profecias
e só goza com os dedos
porque acha um tédio ter que lidar com homens
esquece os nomes das pessoas
e confunde os dias da semana
ama seu gato  
e sua tia
mente pras amigas pra não sair de casa
flerta com espelhos
guarda seu coração no criado mudo
e se diverte sozinha trancada dentro de seu próprio mundo
se acha mais bonita quando fica do avesso
morde maças envenenadas
como se fosse Branca de Neve
de calcinha fio-dental no sofá da sala
nunca se arrisca a dizer "eu te amo"
deixa as emoções pra quem sabe voar
passarinha presa em sua gaiola particular
seus sonhos de faz de conta
esquecidos no conta-gotas no fundo da gaveta de remédios
você pode achar que não
mas seus olhos míopes
me mostram muito mais do que você possa imaginar

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Alma Latina.

desse lado do Atlântico
o tempo corre rápido
e descalço sobre o asfalto quente
sempre existirá putas e drogas nas esquinas
do lado de cá
todo tempero é temperamental
ares diferentes sobre o mesmo astral
aqui onde os amores são de brincadeira
a adrenalina que só existe no risco
entre paixões e vícios
e outras coisas que só vê
quem ta vivo
nas líbidos potencializadas pelo sol
todo mundo trepa
e trai
e se distraí com as morenas de biquíni
enfeitadas pelos trópicos
nos deslizes das xoxotas lisas
peles
pelos
e melanina
já que aqui é verão o ano inteiro
se hidrate com cerveja
e espere pelo próximo fevereiro
para participar das putarias de carnaval
desse lado do Atlântico
é onde a gente sempre vê
o absurdo acontecer
enquanto rimos com um copo na mão

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Diego.

olha a lua dependurada no teu umbigo
e essas flores coloridas no teu vestido
teus olhos a toa mirando horizontes e nuvens brancas
olha teu sorriso de quem dança com o vento na varanda
a malícia das morenas que sempre erram na dose
de amor e veneno
tua sombra nua na parede do quarto
silhuetas sinceras
de quem não leva nada a sério
olha o contorno do teu corpo ainda morno
cheirando a shampoo e primavera
que faz o próprio tempo parar
só para te espiar
rabiscando seu nome com batom nos espelhos
barganhando com o diabo
qualquer coisa em troca de um amor
olha o sol invadindo tua janela
sem pedir licença
vendo que suas segundas intenções
não disfarçam a indecência
bordada em tua pele bronzeada
desmanchando impérios
provocando adultérios
e todo dia quando aquela coisa amanhece
dentro de você
você se culpa
mas não pede desculpas
por ser tão imoral

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Sobras de Sol.

sem muito esforço 
você não se preocupa em esconder tudo o que sente
dentro de seu peito 
como uma flor que desabrocha toda vez que vê o sol
de mão beijada
você se entrega 
com a inocência de uma criança cega
e rasteja atrás de qualquer resquício de paixão
talvez uma tarde mansa 
um filme
um carinho
uma cerveja
lhe caísse bem
alguém que entenda sobre mulheres profundas 
e intensas 
pra te deixar á vontade em frente ao espelho
há um preço alto pra quem ama caras rasos demais
e você sabe bem
amores tranquilos quase não existem mais
há quem te perca sem nunca ter te encontrado
é que você transborda sempre dentro de você mesmo
e inunda essa gente
que não te entende
em mulheres inteiras
não faltam pedaços
mas acredite  
que em seu coração há amor suficiente
pra amar o mundo inteiro
palmo a palmo
e não desperdice
esse amor
com quem não esta pronto pra ser amado
pois amor é item raro
em tempos de sentimentos descartáveis