terça-feira, 29 de novembro de 2016

Vinte e Cinco Centavos.

da última vez você observava as roupas balançando no varal
num mormaço de domingo á tarde
enquanto eu enchia a cara
de uísque barato com gelo
aquela garrafa de vinte paus que cê comprou
antes de te contar sobre a Ellen
você era feliz
e gozava sempre por cima
merda
a gente se dava bem
da última vez você me deu um soco na cara e esqueceu uma calcinha preta pendurada atrás da porta do quarto
e eu já nem olhava mais pela janela
as noites passavam sorrindo
as manhãs eram cenas de cinema
nas putarias nos ouvidos de outras meninas
me peguei te esquecendo pra não sofrer
puta que pariu
fiquei devendo mil e quinhentos conto de cocaína numa biqueira
e quebrei um quarto de motel inteiro
com mais duas garotas
teve aquela vez que tentei atropelar teu novo namorado com um Vectra roubado
só pra você saber que eu ainda te amava
da última vez você me olhou dentro dos olhos e disse que me odiava
porra, você tava tão bonita que foi pecado te fazer chorar

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cubo Mágico.

nos prazeres de meio-dia
quando se agradece á Oxóssi a fartura da mesa
e quase sem querer odeio cristo e minha mãe
ninguém sabe quantas vezes na semana desejo morrer
essa coisa doida dentro de minha cabeça
meu histórico suicida
dos erros
dos crimes
dos vícios
do céu laranjado
nuvens dançantes
dos traços raros na cara das meninas
sobre as cores e os corpos vivos no carnaval
a cachaça infame
as bundas de fora
quem nunca mijou na rua que atire a primeira pedra
Exu cochicha nos ouvidos
nas farras prolongadas
fornicando nas calçadas
meu tempo é ao contrário
meu gosto é pelo errado
já nasci brigado com o destino
procurando outra estação de rádio
esperando outros dias
descartando amores pelos próximos verões
obcecado por olhos doentes
de morenas distantes
com suas almas abertas pra novas loucuras
das doenças contemporâneas
enquanto eu escuto os sambas mais bonitos

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Disque Sexo.

vestida com as cores da noite
pomba-gira que faz malabares em cima do meu coração
bebericando no bico da garrafa
inventa moda
chora, mente, ri e goza
das estrelas mortas que vi no teu umbigo
madrugadas arrastadas devagarinho
pra lembrar teu jogo sujo
teu amor de brincadeira
meu vício
sou teu álibi
despreza meus poemas
me nega
e se entrega
pra outro
me liga depois das duas
pra transar e beber
me fascina
com esse teu jeito de vadia
já decorei o barulho do teu carro
teu cheiro e o gosto da tua boceta
e tuas histórias de " era uma vez"
já reconheço esses teus olhos vazios
cheios de nada
teu umbral é pequeno demais pra nós dois

sábado, 19 de novembro de 2016

Caloi 10.

você percebe meus disfarces
quando falamos de crime e amor
na mesa de um bar
de porre você é desejo
nessa boca que guarda o beijo
recusa cocaína e rela em mim
se entrega de bandeja no banheiro
um universo indecente em frente o espelho
prometo coisas que não poderei cumprir
saciado te  renego
você atriz
adormece em meu peito inválido
aparentemente feliz
nua
sonhando qualquer sonho feminino
tão perto de mim

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Agulha de Crochê.

se eu fosse o mesmo cara de antes
correndo da polícia
perdido em beiços e botecos noturnos
nas macumbas da cidade
que nunca pisava no freio
vestido de delírio e medo
bermuda e chinelo
sabotando semáforos
dos sambas enfeitados nas putarias dos banheiros
bebendo, brigando e sorrindo
se eu fosse o mesmo cara de antes
procurando teus olhos escuros
por ruas envenenadas
quando a boêmia morava em mim
das madrugadas sorrateiras
dos copos sempre cheios
das drogas puras
brincando com a lua
na malícia de toda morena
nos quartinhos quentes
sacudindo a alma
festejando as broncas
desperdiçando as manhãs com falsos beijos
no luxo das paixões vulgares
se eu fosse o mesmo cara de antes

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Blusa Vinho.

confessei meus pecados prum bêbado deitado na calçada
roubei sua pinga e o maço de cigarros que tava
no bolso de sua camisa
atravessei meu inferno descalço
mas o coma não me fodeu por inteiro
perdi amigos, mulheres e dinheiro
amores também
xinguei meus pais
e blasfemei quando disse que deus morreu com uma dúzia de pedras de crack no estômago
as vezes caio no banheiro
as vezes odeio sem querer
as vezes transo tardes inteiras
senti saudades no chuveiro
disfarcei choro com cerveja
prefiro algumas no pelo
pra esperar ansioso fevereiro
botar fogo nas lixeiras
e sodomizar gatas no cio
essa realidade é uma flor brutalmente bonita
como as cicatrizes nos meus pulsos
é preciso flertar com a vida pra se sentir vivo
enquanto o desespero não bater á porta
enquanto o pescoço estiver longe da corda
ainda há tempo

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Jorginho Perdido nas Drogas.

espreguiço de malícia
acostumado a beijar a lona tantas vezes
que hoje gozo no olho do universo
sem sentir remorso
é meio-dia em algum trio elétrico
e alguém interrompe seu ciclo menstrual
todos bebem em velório de diabo
aqui continua o mesmo saco
ás vezes penso em te ligar
pra saber dos seus gatos
seus cachorros
esse sol trata bem da sua pele
novembro é desespero
há fogos de artifício toda vez que vejo a bunda daquela crioula
nossos sonhos ainda estão guardados numa caixa de tênis embaixo da cama
seus segredos de controle remoto
que ninguém percebe
só eu
minha alma ainda esta secando
esticada no varal da vida
porra você era tão bonita
te amar é morrer aos poucos
uma doença sem cura
fatal e silenciosa
aqui na Boa Vista sua presença me assombra
pelos mesmos bares que costumávamos ir