sexta-feira, 24 de novembro de 2017

João Bolão.

prestava atenção nas coisas que não estavam ali
sendo a afta na sua língua
guardei meus sonhos onde ninguém pode encontrar
nem eu
sinto falta das calçadas
da fumaça ardendo em meus olhos castanhos
sendo filho de ninguém
me preparei pra morrer ás vésperas de um dia qualquer
mas falhei quando a corda de seu violão arrentou
como a que enrolei no pescoço
e outro desconhecido morreu
não eu
hoje bebo sendo só mais um
propenso aos amores impossíveis
odeio nada
odeio tudo
a mesma criança em cima do muro
espiando a vizinha
de calcinha
mandei uma carta pra deus
só pra dizer que ele não existe

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Ainda é Primavera.

é como se todo pano dos vestidos que vejo
me trouxesse você de volta
os tecidos macios no corpo de outras garotas
é bom saborear as manhãs quentes
esperar o mundo acabar é uma arte sinistra
mas o vento sempre me traz mulheres bonitas
e te esqueço aos poucos
em doses mínimas
há quem esconda a dor
eu escrevo
e bebo
e fumo
e trepo
e as vezes ainda te procuro
nos obituários dos jornais
nos muros pichados
nas esquinas do universo
até em outras virilhas
mas só te acho
quando me viro do avesso e te descubro sorrindo
dentro de mim

sábado, 18 de novembro de 2017

Galinha Vermelha.

nunca escutei os conselhos de meus pais
e iniciei minha revolução particular
quando chovia coquetéis molotov
no canto mais escuro da  rua
me contradisse muitas e muitas vezes
roubei livros, beijos e carros
meus amores ainda são todos absurdos
sempre foi mais fácil amar as morenas
minha mania de romances coloridos
na dança favorita das santas bêbadas e epiléticas
é que a vida cobrou caro pra me deixar viver
e o instinto é o mesmo de antes
de moleque malicioso, briguento
que pulava as janelas do mundo
em busca de liberdade
mas acabei preso
dentro de mim mesmo
quando me vesti de Judas
 e sem cerimônias me enforquei

domingo, 12 de novembro de 2017

Dalva Muambeira.

eu deveria ter inventado outro amor
mas preferi esperar o sol bater na janela pra tirar tua roupa
decifrei suas marcas escondidas
palmo á palmo
e só o que te pedia
era pra manter meu copo sempre cheio
enquanto houver vida para se gastar
e desejo pra se gozar
tenho sede
não resisto aos vícios
mas isso você já sabe
o mundo inteiro é ciente
e se você rebola na minha frente
eu digo - vem.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Bar do Fidelis.

a primavera sorridente baila nas tuas curvas
nos teus contornos exagerados de mulher
pendura em teu sorriso
enquanto eu mastigo teu umbigo
ressacas e amores não nos ensinam nada
de bruços
você é um completo absurdo
transita em frente ao espelho
decoro todos os seus pelos
fêmea sem alma e sem coração
destila seu veneno pela boceta
e distorce minha realidade
com cachaça, sexo e fumaça
testa minhas teorias e sempre goza por cima
com suas manias de menina
vai embora mais bonita do que chegou
por um momento penso
- vadia
mas depois fico com saudades