quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Pitanga e Cupuaçu.

o desejo que escapa por entre os dedos
todas as putarias imaginadas
presas dentro  de nossas cabeças
o afeto bêbado
o apego
o aspecto moreno de seu seio esquerdo
desliza descalça 
usando minha camiseta cavada
quando a gente virava madrugadas
trepando e boicotando o mundo
você dizia que o amor supera tudo
menos traição
cheirando a cerveja e Carolina Herrera
a boca pintada de batom vermelho paixão
sua pele bordada
tatuagem  de fada no braço
alma solta pelo quarto
e um demônio possuindo sua carne
incitando as vontades
insinuando metáforas eróticas
úmida e irracional
com a mesma loucura ancestral
que consumiu as prostitutas mais famosas da história
de Veronica Franco
Mata Hari
Hilda Furacão
até a boqueteira Divine Brown

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Despimguela.

a menina tem medo da luz apagada da cozinha
e no banheiro
confidencia seus desejos pro espelho
a menina espera
o próximo capítulo da novela
que o próximo namorado seja um príncipe encantado
e que o Bolsonaro morra engasgado
quando tá sozinha a menina canta
e dança
fica pelada na varanda
parece criança que brinca de ser mulher
as vezes a menina chora
as vezes ela erra
as vezes ela goza com a ponta dos dedos
coleciona sapatos
nudez e segredos
odeia alguns casos do passado
outros ela não esquece
e sente saudade do sexo, do toque e do cheiro
nem santa
nem profana
as vezes a menina sai com as amigas
e enche a cara
beija a boca de caras errados
da risada
ou da na calçada de casa
é que o coração da menina bate diferente
e ela se diverte imaginando sacanagens
mata aula da faculdade
e fica desenhando  picas enormes nos vidros dos carros
inconsequente
a menina sonha em ser menina pra sempre


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Barra-Forte Verde.

enalteci morenas e malandros
perdoei dívidas e traições
fui fiel a antiga honra dos ladrões
passeei por entre avenidas
e antros de alucinantes perdições 
escolhi os melhores pecados
não me regenerei
costurei meu destino
com a linha preta do suicídio
quando brinquei com a corda em meu pescoço
alguns dizem que não era minha hora
outros dizem que joguei minha vida fora
eu rio
toda vez que transo, bebo ou uso droga
não opino sobre o que não vivi
sobre o amanhã
sobre todas as manhãs que eu dormi
consumido pelas madrugadas pagãs
existe um pequeno diabo gente fina aqui dentro
beberrão, malcriado e barulhento
toda vez que eu olho no espelho ele me acena
e com o dedo médio em riste me dita poemas
desenha sonhos e desejos no meu travesseiro
e me mostra como a vida vale a pena
apesar dos problemas
ainda há cerveja, mulheres e fevereiros

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Envelope Vermelho.

desconexo converso sobre amor e sexo
acompanho seu vulto moreno
pelo reflexo do espelho
você que não gosta de pelos
e não entende meu lado hermético
é que o mundo tá cheio de canalhas
e todo adultério requer um pouco de classe
você sabe, mas não fala
estica a toalha molhada no varal
e espera passar o seu inferno astral
espera os milagres do calendário católico
páscoa, corpus-christi e natal
desmistifico seu destino de cigana sem família
que negocia sua herança em falsas pepitas 
e descobre novos prazeres com uma amiga lésbica
orgasmos legítimos e amores inférteis
diz que não se envolve com quem não bebe
"existe um mal oculto em todo homem são"
e eu sou seu diabo torto de estimação
escrevendo poemas catastróficos sobre seus peitos 
e sobre sua revolta anárquica contra as coisas chatas da vida
das novelas e dos suicídios
dos fuxicos das comadres que nunca olharam pro abismo
você se apega demais as minhas cicatrizes
e nas mentiras bonitas que eu cochicho
que florescem no teu ouvido
e enfeitam seu sorriso místico de Monalisa

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Medula Sísmica.

nos instantes cronometrados
alguns segundos que escorrem pelo relógio
ponteiros derretidos desafiam o efeito lógico
e a estranheza surreal do ácido
sem futuro, nem passado
em mim só existe o agora
como se eu fosse parte integrante do quadro 
"a persistência da memória"
muitos corações em desalinho
dançam as putas nesse festival da carne em declínio
sorri o menino
sonhos e ebós  nas encruzilhadas
onde o santo fuma e bebe cachaça
eu me entrego
você se entrega se quiser
de peito aberto eu sinto o perfume radioativo 
aqui deus é mulher
e abençoa nossas manguaças
entende nossas recaídas cinematográficas
e alivia nossas frequentes ressacas
há quem forneça anestesia para os anjos caídos
venenos clássicos e primitivos 
não fazem distinção entre europeus ou latinos
positivo ou negativo
enquanto enchem os bolsos dos patrões
patrocinadores do vício
seguros pela imunidade parlamentar
governam bem longe do risco
dó, ré, mi, fa, só
ninguém mais lembra do helicóptero lotado de pó
depois chora a mãe do menino
sem saber da onde veio  o tiro

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Catapulta, Cataclismo e Pata de Camelo.

veja só
quantas paixões esquecidas na minha calçada
tantos sentimentos sem sentido
tanta dor que a gente cura com cachaça
e ouve samba pra sofrer com elegância
mas eu sei que o amor não é um jogo perdido
e mesmo que você ame mil caras errados
sem medo de perder
na esperança cega de ganhar
percorrendo caminhos contrários
abrindo mão de tudo
sem se importar com nada
colecionando porres e trepadas mal dadas
tudo isso faz parte
todo mundo sabe que amar é uma arte
mas se o seu ficar coração cego, surdo e mudo
e quando amar se torna um absurdo
já não vale mais a pena
se o choro toma lugar do seu sorriso
te dou um conselho de amigo
procure outra paixão mais amena
algum homem gentil
nascido em abril
que entenda de crime
de sexo e filosofia
e que te mostre que você é apenas uma mulher
mas com gosto e jeito de poesia

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Vilela.

 resplandecem seus olhos vermelhos
enquanto o sol das três maltrata sua pele
suas marcas ainda estão em mim, meu bem
e eu fico bêbado toda vez que penso demais no teu sorriso
qual é o preço dos teus problemas?
tenho contatos, clientes
e amigos de índole duvidosa
espalhados pelos quatros cantos da cidade
e tem gente gente que não sabe da nossa missa
um terço
eu disfarço teu sexo a torto e a direito
e você sufoca meu peito
com sentimentos que não tem nome
como essas coisas que deus inventa
para seu bel-prazer
o amor
a noite
o perdão
a cerveja e a mulher
e quando sua boca me consome
mastiga pedaço á pedaço
tudo que um dia foi
hoje já não é mais
tudo vira cinzas e fumaça
o que resta é o nada
das nossas  almas incendiadas


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Donato 171.

 desperto do tédio
me iludo com tudo
bocetas, crimes e muito fumo
não sigo métodos
regras
prefiro lirismo ao invés da métrica
sou membro honorário do grupo obscuro
dos suicidas que enganaram o mundo
com a corda no pescoço eu sai do escuro
mas ainda transito pelas encruzilhadas do período noturno
vestido de  bêbado
traficante ou poeta
de camiseta cavada e chinelo
mesmo sequelado com porte físico de atleta
escapei da polícia
mas ainda me divirto com os vícios
aprecio decotes e riscos 
com a mesma malícia da infância
e dos sambas de antigamente
quem me vê assim não me entende
a  mente trama
o que minha boca não fala
e se o Cigano tivesse vivo
com certeza ele diria:
- esse fi duma puta não mudou nada.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Ernesto Iluminado Pelo Sol da Manhã.

ri das tragédias jornalísticas
indiferente a paixões verídicas
duvida do relógio
do amor
e da bíblia
aprecia o beijo
o sexo
e as vezes aprecia
até outros seios
convicta me explica
suas coisas de mulher
desde a tensão pré-menstrual
até suas neuras sobrenaturais
esse lance paranormal
sobre sexto sentido e tal
as vezes eu entendo
as vezes eu só finjo
e admiro sua vaidade
sua tatuagem
e seu sorriso
seu ventre liso
seus dilemas e equívocos
e enquanto você veste a roupa
em silêncio eu tento
desvendar seus sinais
memorizo teu jeito
teu cheiro
e o nome dos teus pais
mas você é como um enigma
com os olhos borrados de anfetamina
e sua alma bem longe da paz
de cristo, de buda
ou tanto faz...

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Adejanor.

 ilustrei teu corpo maduro 
com pontos finais
baguncei teu período fértil
com paradigmas existenciais
e no beijo de despedida
fica claro que a gente não da mais
mas sua voz ainda sussurra ao pé do meu ouvido
e nós ainda somos 2 personagens
de crime e castigo
eu até imaginei um final bonito
um porre
uns tiros
a última trepada derradeira
tão boa como se fosse a primeira
sua doçura inabalável de tangerine
sua boca espumando numa overdose de cocaine
é,
as vezes o barato sai caro
e ninguém lê o manual dos drogados
é só a mesma chatice dos 12 passos
e o caralho a quatro
dessas merdas contemporâneas
de jogos online, pornografia e televisão
e eu ainda penso naquele teu vestido florido
e nos sonhos perdidos
da época das clínicas de reabilitação
dos delírios de rivotril
quando eu fumava cigarro
e esperava o mundo acabar numa convulsão

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Maria da Graça.

se afoga
no copo de vodca com coca
desfila entre o paraíso e a perdição
com os olhos pintados de pecado
e o corpo quente de verão
renega seu sobrenome
sua herança
e me jura
de pés juntos
que se nada der certo
vira puta
não tem medo da rua
nem do escuro
não tem medo de nada
e as vezes mija na minha calçada
- é pra marcar território.
você diz
e me arrebata
com a voz rouca
enquanto tira o vestido
com seu jeito de disfarçar a libido
tampa o seio com travesseiro
você é só uma criança sem amigos na hora do recreio
diz que não usa relógio
só pra enganar o tempo
que pinta e borda momentos
essa sua mania de enfeitar as madrugadas
vive como se a vida fizesse algum sentido 
quando quer procriar
planta sementes de sonhos no meu umbigo
pra germinar numa outra reencarnação
num lugar distante
que tenha cachaça, droga e carnaval
onde deus seja mulher
e o sol se ponha na palma de sua mão

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Darlene da Feira.

esqueço seu rosto
suas dobras
a imagem dos seus seios de fora
seus traumas de infância
seus dramas sem causa
o cheiro da sua xoxota na minha cara
sua risada ecoando na madrugada
te esqueço pelo prazer
de te esquecer
só pra te lembrar depois
e depois
pois com você eu quero tudo
e não quero nada
minhas paixões são todas no plural
eu aprecio o visual
sua juventude  é efêmera e decadente
enquanto a lua testemunha suas loucuras
a gente fuma
fode e as vezes sonha juntos
nesse nosso barato casual
você estuda as minúcias do meu mapa astral
eu desvendo teu corpo
teus gostos
com quantos caras você transou antes de agosto
garota profana
que desmarca compromissos e suicídios
pra vir me ver
e bagunça meus delírios de cine-privê
enquanto o mundo acaba
do lado de lá da janela
aqui dentro você me usa
e eu uso você

terça-feira, 28 de julho de 2020

Beijo na Bandeira da Folia de Reis.

deságua plena
seus olhos com cheiro de mar
dos traços quentes
brilha um sol no teu umbigo
é verão no teu corpo inteiro
que me causa disritmia tua fotografia
entre o belo e o óbvio existe um abismo
algo oculto em sua silhueta
você é a menina emancipada
que viaja o mundo sem os pais
teu lado esquerdo é negro
onde se esconde os mistérios de seu signo
a delicadeza do teu sexo
o teu primeiro sorriso da manhã
a saudade que não te deixa quieta
você é a carta do amor
que não foi virada no meu tarô
o tango triste que eu nunca soube dançar
a musa do poster da revista
que eu nunca tive a chance de amar
tão linda
que me acontece tão de repente
como uma estrela cadente
que quando eu pisco
já não te vejo mais

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Summertime.

remonta capítulos da mesma novela
reprisa as tardes com os olhos perdidos na janela
num loop infinito de porres e ressacas
distante da realidade
bem perto dos sonhos cor-de-rosa
devaneios auto biográficos
a bagana haxixada
pra me salvar do tédio da madrugada
nas reflexões pós-sexo
seios expostos para o universo
e algumas perguntas sem respostas
sobre palpites e sentimentos
quase não esconde suas feridas
causadas por outros caras
quando tropeça nas estrelas
e se pergunta porque o coração
não fica no meio do peito
buquês de flores e falsas promessas
- qual é o preço de uma mentira bem contada?
eu te entendo
você me entende
e não existe nenhum pudor aparente
conversamos sobre tudo
ou sobre nada
seus pelos tropicais
descoloridos com água oxigenada
nossas iniciais pichadas nos muros
nosso amor de brincadeira eternizado
nas páginas de qualquer romance 
de Jorge Amado
e todos ditados que a gente ouve uma vez
e nunca mais esquece

terça-feira, 21 de julho de 2020

Delírios de Segunda-Feira a Noite.

pinta e  borda meus deslizes
e diz que tenho muitos mal necessários
discute comigo sobre sexo
e filosofia hermetista
e ri quando eu digo que Voltaire é massa
mas nunca me acrescentou nada
contraventora rica
me apoia quando planejo não largar o tráfico
- o crime nos seduz.
e eu faço jus quando engulo seu peito esquerdo
com a violência derradeira
e a fome que deus me deu
você anseia a lua
o sol
as estrelas
eu anseio seu seio
dinheiro
e outras orgias típicas de carnaval
nossos destinos cruzados
pelas palavras cruzadas de minha avô
você acha bonito
os olhos castanhos de Brigitte Bardot
eu não ligo para padrões
e me  perco nas rosas estampadas em seu vestido
vadia excêntrica
amiga íntima do meu cachorro
que me beija a boca com gosto de martíni
e vive a vida como se fosse a Maria
do filme
amor, sublime amor.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Um Nó de Outra Vida.

você tem suas minúcias
da tatuagem na pele escura
da vaidade excessiva de menina
que fez nascer uma flor prematura em meu coração
uma vontade quase infinita
de te conhecer por inteira
desembrulhar teu seio em papel crepom
traduzir os requintes de seu corpo marrom
talvez sonhar juntos
meia-dúzia de sonhos etílicos
pra eu compor mil versos com teu cheiro
impregnado no meu travesseiro
você tem  essa coisa
essa presença mística
carregada de axé
dos ebós nas esquinas
esse fogo que arde
que queima na alma e na retina
essa beleza que nunca cessa
devassa e controversa
de quem bebe muito e pouco reza
e antes que seja tarde eu me vejo obrigado
a dizer que te amo
e mesmo que eu passe um tempo perdido
envolvido nisso ou naquilo
sendo um bêbado sequelado
bandido ou indeciso
saiba que você foi a coisa mais bonita
que me aconteceu na Boa Vista

quinta-feira, 16 de julho de 2020

A Vizinha Nua na Janela.

sou insurgente
um cão reincidente
 que morde a mão de quem me afaga
administro porres
incêndio nas cortinas e dedadas nas calçadas
sou o caos nas encruzilhadas
beijo a boca do peixe tatuado na coxa de Tatiana
sem sutiã
que se esparrama pela cama
antes das 4 da manhã
me perco no inferno de vaidade e sedução
camuflado com cheiro de incenso e verão
que existe dentro do coração das morenas
diabas sorridentes 
com seus desejos de estrelas cadentes
admiro convicto
os decotes das empregadas domésticas
sou refém dos estragos
as vezes me desvio na cocaína
as vezes morro pelo sorriso de alguma menina
atento sempre aos detalhes
da porra lírica que escorre pelas pernas
e dos amores excêntricos
bocejam as mulheres exóticas
que flutuam nuas pelo sereno
quando cortejadas por caras normais
com seus emojis idiotas
e mensagens de bom dia
enquanto provo líbidos com a ponta da língua
e testo o sexo
como um cego que conta os passos
eu tateio seios, sonhos e paredes
pra poder me encontrar
na imensidão cósmica das xoxotas e dos espelhos

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Mabeco Cão Selvagem Africano.

quando o sol se estende até sua janela
pra te acordar da hipnose mundana
do sono florido
do coma induzido
eu te imagino se espreguiçando
tentando não roer as unhas
com o celular no mudo
cantando desafinada no chuveiro
na duvida entre o foda-se
e o tanto faz
ignora as mensagens de um certo rapaz
assiste as reprises de filmes tristes
sem finais felizes
quer outra tatuagem
mudar de país
ser atriz de cinema
um porre de vodca com coca
precisa arrumar algum vicio
ensaia mentiras enquanto escolhe um vestido
flerta com inimigos invisíveis
suposições apocalípticas imprevisíveis
e outras apostas sobre o fim do mundo
confessa pecados ao seu gato
felino confidente de sonhos doentes
que assiste calado o caos das tpm's
e quando se assanha
a líbido  Freudiana explica 
tudo sobre fornicar em cima 
da pia da cozinha

domingo, 28 de junho de 2020

Canavial.

tem essa boca
esse sorriso 
essa cor mistica 
de Oxum com espelho na mão
que transborda elegância ancestral 
das rainhas pretas
e passeia descalça sobre meu coração
tem essa pele escura
essa fome de amor e poder
fruta madura na árvore da vida
pronta pra ser mordida
tem esses traços suaves
líricos
e encantados
essa poesia que sai de dentro do meu peito
toda vez que te vejo
rodeada de cores cintilantes
ela existe
como nenhuma outra existiu antes

1966.

desmistifico tua sombra nua na parede
monto e desmonto as peças do seu sexo
controverso de geminiana
que desrespeita todos os semáforos do universo
negligente e esotérica
vislumbra sonhos simples
de véu e grinalda
e outra porção de coisas banais
enfeita o céu do meu bairro
com supernovas que traz na bolsa
fala comigo sobre amor
orquídeas raras
e outras coisas que eu não entendo
é que sou só um cara normal
do pau mediano
que gosta de carnaval
futebol e putaria
e você, baby
vê coisas que os olhos não podem ver
inunda sua pele
com todos os sentimentos do mundo
tem a alma aguçada pelos amores eternos
e outros clichês de novela
por isso me tire dos seus planos
minha pequena
sou real demais
pra essa sua utopia transcendental
de felizes para sempre
etc e tal

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Duas Bonecas e Um Pônei Encantado.

danço o  tango das diabas
das donzelas suadas
que convulsionam rebolados 
sob o sol dos malandros
e dos velhos tarados
danço a ciranda das indecentes
no festival de quem fode muito e pouco sente
sou atropelado pelas horas
e ninguém entende a má conduta de quem ama 
a velha história das esposas infiéis
e dos maridos doentes
abençoadas sejam as lazarentas
as raparigas dissimuladas
e as damas imorais dos bares e madrugadas
com seus sexos xerocados 
são todas cartas do mesmo baralho
danço o bolero dos excessos
dos porquês autodestrutivos dos vícios 
rezo o terço das santas do pau oco
da pombo-gira narcisista
da marca do beijo no espelho
do riso 
e do risco 
no desbunde dos decotes
na tentação dos precipícios
eu celebro o pecado e o divino
com a mesma emoção de menino
que descobre a namorada nua 
pela primeira vez

terça-feira, 23 de junho de 2020

Embromadora.

com o olho clínico
examino de perto teu declínio
todas as merdas que você faz
e bota culpa em seu signo
com ascendente na puta que pariu
como um voyeur te assisto nua
pelo buraco da fechadura
decoro seus traços
seus beijos com gosto de halls preto
os boquetes
os abraços
é que você ainda brilha em meu céu 
como uma estrela morta a milhões de anos
que debocha
e ri do meu pau mole
conta meia dúzia de mentiras
que eu finjo que acredito
porque acho bonito seu sorriso
de quem presta menos que eu
dirige perdida pelas esquinas do universo
em busca de alguma fantasia
que dure só até o amanhecer
pelo prazer dos momentos passageiros
das drogas
das trepadas casuais nos banheiros
sujos
pelo contorno do seu corpo escuro
em alto relevo
moldado sobre o meu

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Jarro de Barro.

contraria o destino
toda vez que enche a cara
e me busca na porta de casa
os astros testemunham seus erros, baby
e não há deus que te console
com a boca cheia de perdões
e palavrões
se insinua
blasfema contra teus pais
me insulta
diz que é a última vez
depois dessa nunca mais
se a sua carne é fraca
a minha também
você que não gosta dos meus sambas antigos
mas me chama de "meu bem"
com os olhos mestiços
encharcados de mágoa
e de amor não correspondido
sem roupas você me desconcerta
e deve estar certa quando diz
que eu sou apenas um menino vadio
com cheiro de xota na cara
que descarta sentimentos em troca de farra
mas é que eu já ressuscitei
e só eu sei
qual é o preço de  se viver duas vezes
sem precisar morrer

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Califórnia.

seus segredos todos guardados atrás da porta
controversa
e dissimulada
seu nome sujo na praça
imaginando desgraças
com os olhos pousados no retrovisor
desfruta do quarto de motel barato
princesa vulgar dos inválidos
sua mãe com cirrose
seu pai não existe
como cristo loiro e triste
dos crentes castos e abstêmios
morena radioativa
remarca o apocalipse para o próximo domingo
devota de Maria Padilha
que só goza por cima
felina soberba
rasga minha boca no beijo
com gosto de cerveja
eu perdido no meio de suas coxas grossas
sussurrando mandingas silenciosas
pra não ser decifrado
pra você não entender tudo que eu falo
incapaz de resistir ao cruzar das suas pernas
celebrando suas indecências de adolescente
sob o sol quente de inverno
e das incontáveis tardes eternas
em que eu fico a mercê
de você

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Virgo.

tem essa curva rara em seu sorriso
formas geométricas escondidas em seu vestido 
de renda
e no teto de seu quarto 
estrelas fluorescentes
nas noites de insônia 
eu te hipnotizo
e recomendo siririca
quando você deseja ir além do céu
e do que os olhos podem ver
te apresento algum sintético
e te provo que é possível sonhar de olhos abertos
e quando violo teus ouvidos
com sacanagens diferentes
você se rende 
e me entrega seus seios 
seu ventre
seu corpo
embrulhado em papel de presente
quando sua carne grita
num pout-pourri de desejos
você goza num lampejo
sua pele brilha cintilante
e ilumina a cama
a rua
o bairro todo
toda vez que deus te vê 
nua

terça-feira, 9 de junho de 2020

Kelinara Explode Coração.

pra te compor
seus pedaços miúdos
na eternidade dos minutos
pra traduzir seus sonhos perdidos no travesseiro
no ritmo triste de um bolero
batom em seus lábios
e flores na barriga
no jogo dos búzios
seu destino caprichado
jeans novos e namorados
pra enganar o tempo
rasga as folhas do calendário
associa crime com poesia
dorflex e cocaína
expõe a bunda
e esconde o rosto nas fotografias
aplaude travestis nas esquinas
duvida dos amores verdadeiros
pra te desconcertar
te viro do avesso
minto o  nome de minha mãe
digo que não tenho outras
e que acredito em deus
pra te fazer gozar
questiono seu tesão
testo sua líbido de verão
vasculho seu corpo moreno
atrás de detalhes pequenos
curvas e dobras que nenhum cara encontrou
só pra ver seu sorriso cego
e bobo
de quem nunca amou

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Caldo de Feijão.

seus olhos cínicos
testemunham a aura dourada 
que rodeia teu corpo abstrato
se movimentando na valsa dos falsos
brilhando o crucifixo de ouro
em seu pescoço
sorrindo e reclamando de tudo
seu amor de surdo e mudo
que gesticula com as mãos
pedindo carona na contra-mão da razão
escandaliza manhãs e retinas
e namora as vitrines
apalpa manequins
na sombra mais escura do quarto
se desmancha inteira
desmonta seu peito de lego
e deseja uma viagem intensa
digna dos sintéticos de antigamente
revira a gaveta de meia
atrás de um diário em branco
só pra me provar 
que a vida precisa ser vivida
antes de ser escrita
depois me chama de querido
esboça um sorriso
fecha a cortina 
e me engole num beijo brutal
me provando
que a beleza da vida de verdade
é não ter sentido

segunda-feira, 1 de junho de 2020

O Pai da Bia.

ela é a poesia que me escapa por entre os dedos
o último baseado perdido no bolso
da flor no cabelo
todos os detalhes dos sorrisos suspeitos
ela é qualquer samba bonito do Chico
das curvas líricas
do seio tímido escondido atrás do lençol
dos domingos
das cócegas no umbigo
ela é o beijo molhado
a amante de quatro
pedindo: - vem.
das deusas pagãs
ela é a magia
e o mistério oculto dentro de toda mulher
dos períodos  férteis
das lágrimas
do sangue vivo da costela de Adão
ela é a loucura doentia de toda paixão
do ciúme explícito
dos pelos
do cheiro de fêmea
no cio
ela é a miragem hipnótica
emoldurada dentro do espelho
do transe nos terreiros
ela é de carne
ventre
alma e coração

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Seu Domingos .

seu suingue controverso
seu êxtase mediúnico da pombo-gira de plantão
seus olhos escuros
fazendo sombra no lado noturno do mundo
nua em pelo e cicatriz
brinco de ouro
o coração encharcado de desgosto
e fumaça de Marlboro
seu vulto
seu sorriso mudo
de quem brinca com o destino
e não teme o perigo
seu sangue de puta
da navalha escondida na bolsa
 do flerte obsceno
bares e motéis baratos
trapaças
lágrimas e ameaças
se derrama quando ama
- puta não foi feita para amar
você diz
e esconde seu prazer verdadeiro
pra quem procura caprichosamente
pelos caminhos tortos de seu corpo
a vida só é curta pra quem não sabe viver
e quando você sair a procura de alguma ilusão
lembre-se
eu continuo onde você me esqueceu,
bem na palma de sua mão...

terça-feira, 26 de maio de 2020

Caetano Veloso.

há quem entenda que o tempo
é o tempero dos momentos
inquieto e absoluto
mestre dos amores esquecidos
rei dos absurdos
há quem prefira transar sem camisinha
e sem sentimentos
e há quem se envolva demais
e faz os mapas astrais
de todos os caras com quem sai
há quem entenda a cabeça das mulheres
e despertam a kundalini
lavando o pau na pia
com a cara de psicopata bêbado
desenhada no espelho
há quem quer sentir ao invés de possuir
há quem acredite
que existe um abismo entre nós
enquanto as roupas balançam nos varais
e eu estou dentro de você
e você dentro de mim
há quem sofra com as separações
e há quem só se fode na vida
há os suicidas e as vadias
há quem examine as peles das meninas
com a língua
e há meninas que choram
sem ser pelos olhos
há quem te chame de bandido
e depois te mande  mensagens com nudez arrependidos
há quem beba demais
porque acha que cerveja é o mijo de deus
há quem ame
mas ama  do jeito errado
há quem peca
porque é bom pecar
e há quem se entregue
inocente feito um pássaro
e corta as próprias asas
só pra não voar mais que os namorados
há quem se importe com os outros
mas esses são sempre muitos poucos
e há quem se confunda entre o desejo
e o desejado
se perde no caminho ao precipício
e depois chora
porque o choro é o oposto do riso
e todo mundo  sabe disso
menos você...

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Fatita.

ela fala apaixonada
tudo o que sabe sobre cães e flores
e se impressiona com os vários tons de azul
do céu
garota  esotérica
que brinca com homens e bonecas
faz de seu coração um quebra cabeças
e peça por peça
ela desafia quem insiste em desvendar
seus segredos de menina
suas bobagens
ilusões cinematográficas
quando quer chorar
se refugia no banheiro
quando quer sonhar
olha pra dentro de si mesmo
se diverte com janelas
espelhos
e cervejas
ela só lê escritor que já morreu
e sente saudade de tudo que não viveu
garota do sorriso ateu
que carrega o sol dentro da calcinha
seu coração bate diferente
sempre sentido ao trópico  de capricórnio
por isso o mundo não entende
seu jeito
seu seio direito
e o porque da tua alma ser sempre tão  quente

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Samambaia na Janela.

contemplo seus olhos
seus seios de fora
á espera de um amor subliminar
escondido nas entrelinhas
ou camuflado sob cicatrizes nos corpos
de mil caras
te admiro isenta de responsabilidades
pós sexo
com seu ar contemporâneo
pisando na linha tênue entre ser vadia
ou empoderada
diz que lê Nietzsche
e categórica afirma que amor não existe
decoro  os traços tropicais de seu corpo
inteiro
seu espírito devasso
avessa a doenças modernas
e refém preservativos
te decifro
seus pontos fracos
seus olhares enigmáticos
o lado oculto dos teus reflexos no espelho
tuas vontades pornográficas
sua  promiscuidade clássica de filmes europeus
das trepadas requintadas
das frases inteligentes
você me fascina
mais do as janelas abertas da Boa Vista
e mais do que as coisas que terminam
sem nunca terem tido um início

terça-feira, 19 de maio de 2020

Bar da Mercedes.

todo boteco é um templo
um antro divino de perdição
onde cantam os bêbados sagrados do bairro
das mulheres de bunda grande
bebidas quentes
armas frias
onde toda travesti de esquina
é rainha 
ninguém se regenera
todo mundo chora
goza
e fede
festeja quem tem sede
tem gente que gosta de poesia
tem gente que não liga
e só morre quem não tem mais vida
respira quem tem pulmão
fode quem tem tesão
e são lindos os decotes
os sorrisos
e shortinhos
onde todo garçom é amigo
todo espelho é mágico
e todo banheiro é  confessionário
a gente inventa novos pecados 
só pra ficar um pouco mais

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Corra e Olhe o Céu.

é que você tinge meus pensamentos
de vermelho batom
sobre trepadas epiléticas
sob as luzes de neon
é que seus olhos de criança que teve pais ausentes
invade minha alma estranha e desbotada
de marginal aposentado
é que enquanto o tempo me maltrata
á você ele só faz bem
e mesmo que você chore
e maldiz meu nome
por saber que eu não valho nada
você sempre volta
mansa
com o sorriso branco de mulata
trazendo em suas mãos
um milhão de perdões
e em meus braços de boêmio antigo
te apresento minhas mentiras mais bonitas
pra colorir seus orgasmos
seus dias
seu mundo repleto de alegorias
e mesmo que a eternidade dure só uma noite
ou menos
você se entrega
e no fundo sempre espera
muito mais do que eu posso dar

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Mohamad.

desinibida ela brilha
sem pudor nenhum
como uma flor que desabrocha
na palma de minha mão
dos olhos castanhos
da pele morena
uma menina que brinca
de amar
encanta quem te vê assim
tão jovem
como um filhote
de animal exótico
promovendo o erótico e o belo
assuntos avulsos
e  mistérios
tem um universo inteiro em seu umbigo
baseados
estrelas e sorrisos
menina solta
passeia sem roupas pelos ares
brincos e colares
quem pensa que te entende
não te decifra
como a bíblia
na mão de um ateu
quem te olha
não te vê
mas quem te prova
crê...

terça-feira, 12 de maio de 2020

Vidal.

você beija minha boca
sempre com o mesmo sabor
de hora do recreio
seu coração palpita
na mesma disritmia precoce de um ogã bêbado
a vida é feita de ritmos, meu bem
e ninguém mais dança seus tangos velhos
e exageradamente românticos
o amor esta fora de moda, baby
ninguém mais se importa com casos que nascem nas calçadas
ou nos pontos de ônibus
e é tão antiquado essa necessidade sua
de amar e de dar a bunda
os tempos são outros
janelas e suicídios
já não chamam tanta atenção
hoje em dia a vida se resume em silicone
instagram
garotas brancas
hashtags
e cocaína no café da manhã
ninguém mais se interessa por clichês amorosos
cartinhas escritas a mão
ou as maravilhas feitas de papel machê
e só você ainda crê
e lê as cartas marcadas desse seu tarô
enquanto o mundo moderno atropela
seus delírios vintage
de roupas antigas penduradas nos cabides
e olhares daltônicos
dos filmes em branco e preto

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Olho de Vidro. Perna de Pau.

sua sombra continua intacta e transfigurada
atrás da veneziana de madeira
sua risada ainda ecoa pelo corredor
no canto do quarto
ainda existe qualquer resto teu
um vestido velho
um brinco perdido
ou seu sorriso ateu
ainda te vejo nua
pegando cerveja na geladeira
me contando sobre sonhos estranhos
e ataques epiléticos
da virgindade no colégio
as vezes confundo lembranças
e troco o nome de outras garotas
pelo seu
e finjo que já te esqueci
porque eu sei que qualquer merda que me machuque
é o que te faz rir
as vezes eu ainda procuro
seu olhar masoquista
de passista drogada
me ensinando tudo sobre doenças terminais
corações quebrados
e ressacas...

terça-feira, 28 de abril de 2020

Azul Marinho.

o olho clínico
que admira as dobras cínicas do teu corpo
esticado sob o sol de domingo
o vazio em seu peito bordado
como os girassóis  nas toalhas de mesa
hipnotizada pelos remédios tarja preta
boca e boceta seca
mente tranquila e débil
você parece até uma vaca hindu
mascando chiclete
num transe elegante
monogamia
marido de pau mole
culto aos domingos
presa numa viagem longa de psicotrópico
alteraram sua realidade, baby
as vezes eu sonho
e vejo sua sombra viva
entrando pela  minha janela
chapada de ecstasy
colorindo céus
e roupas
com sua paleta de cores psicodélicas
bagunçando tudo
revirando meu mundo
desenhando pirocas gigantes nos muros
inventando moda
uísque com coca
ácido e astronomia
as vezes ainda ouço as pegadas
do que restou
desse animal brutal que mora dentro de você
passeando nua e embriagada pela casa

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Um Urso Polar Faminto Pode Se Tornar Canibal.

caminha sorrateira
entre o sofá e a geladeira
experimenta vestidos
homens e drogas
despreocupada com o mundo
suborna guardas
atropela gatos
e se afoga em mil copos sujos com cerveja
as vezes morre
as vezes sofre
as vezes se encontra perdida
e reconhece o inimigo dentro do espelho
resiste a ressacas como uma alcoólatra auto de data
adia amores 
e dívidas
é amante da noite
enfeite de estrelas
flerta em banheiros
quando a madrugada te da boas vindas
e você tira sua própria sombra pra dançar
sua retina brilha
em meio ao caos das mesas dos bares
seu paraíso explícito
rodeada de anjos bêbados e vulgares
onde todo garçom é um diabo cínico
incapaz de entender o lirismo de uma saideira

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Eleonor F.

faz pose de puta famosa
Bruna Surfistinha ou Maria do Egito
sensualizando em cenas imaginárias
no espelho do armário
perdida em plena era de aquário
se enrosca no travesseiro
seu parceiro íntimo sem carne e sem coração
suspeita das sombras noturnas no jardim sem flores
mas só dorme nua e com a janela aberta
se arrisca de unhas postiças
e aprecia essas tardes douradas e quentes
quando o sol se põe na palma da sua mão
e raios ultra-violetas escapam por entre seus dedos
cega tateia paredes e peles
debocha de quem não entende nada sobre sorrisos
e venenos
muda os móveis de lugar
guarda o gosto de outras bocas
na sua
e tira fotografias da lua
dos peitos
e das plantas
dança a ciranda dos indecentes
e das vadias
e na quaresma reza
pra que deus não exista

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Verbo e Fome.

você oscila entre a filosofia budista
e a cocaína
e parece ter certeza de tudo que não quer
filhos
homens de pinto pequeno
e bad-trips de  ácido
gosta de vodca com suco
banheiros de ladrilhos coloridos
feriados prolongados
e bronzeamento artificial
odeia que te chamem de querida
bêbada esquece de dar seta
faz ioga
coleciona relógios e cachimbos
mente pra sua psicologa
diz que não se droga
não trepa
e não pensa em suicídio
desperdiça saúde
e dinheiro no abismo perigoso
dos bares e madrugadas
acredita que a vida seja esse eterno rasgar-se
e remendar-se
mas sempre ri do ridículo
e acha hilário
mortes estúpidas
como a velha gorda que morreu afogada
numa piscina de plástico

terça-feira, 21 de abril de 2020

Estrupício.

analiso teu sorriso sem graça
de Monalisa emoldurada
seu sexo de empregada doméstica com tesão
igual a Carol em fim de festa
em seu transe pornográfico
monogâmico
quase cinematográfico
digna das picuinhas de quem só ama um por vez
de fidelidade e outras bobagens
sempre perde tempo escolhendo roupas
e estações de rádio
espera pelo próximo apocalipse do calendário
brinca com os restos do sol
e desconfia de seu instinto
toda vez que acorda de brinco
espalha meus sonhos pelo chão da sala
e esquece o cheiro de sua xoxota
em minha cara
suas bonecas foram todas mutiladas
e agora seu quarto amanhece todo dia
mais triste
porque o único enfeite em cima da cama
é você

terça-feira, 14 de abril de 2020

Sinfonia de Surdo e Mudo.

a eternidade escorre pela sua janela
toda vez que você se esquece de olhar pro relógio
e passa as tardes
perdida entre comerciais de tv
e profecias
e só goza com os dedos
porque acha um tédio ter que lidar com homens
esquece os nomes das pessoas
e confunde os dias da semana
ama seu gato  
e sua tia
mente pras amigas pra não sair de casa
flerta com espelhos
guarda seu coração no criado mudo
e se diverte sozinha trancada dentro de seu próprio mundo
se acha mais bonita quando fica do avesso
morde maças envenenadas
como se fosse Branca de Neve
de calcinha fio-dental no sofá da sala
nunca se arrisca a dizer "eu te amo"
deixa as emoções pra quem sabe voar
passarinha presa em sua gaiola particular
seus sonhos de faz de conta
esquecidos no conta-gotas no fundo da gaveta de remédios
você pode achar que não
mas seus olhos míopes
me mostram muito mais do que você possa imaginar

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Alma Latina.

desse lado do Atlântico
o tempo corre rápido
e descalço sobre o asfalto quente
sempre existirá putas e drogas nas esquinas
do lado de cá
todo tempero é temperamental
ares diferentes sobre o mesmo astral
aqui onde os amores são de brincadeira
a adrenalina que só existe no risco
entre paixões e vícios
e outras coisas que só vê
quem ta vivo
nas líbidos potencializadas pelo sol
todo mundo trepa
e trai
e se distraí com as morenas de biquíni
enfeitadas pelos trópicos
nos deslizes das xoxotas lisas
peles
pelos
e melanina
já que aqui é verão o ano inteiro
se hidrate com cerveja
e espere pelo próximo fevereiro
para participar das putarias de carnaval
desse lado do Atlântico
é onde a gente sempre vê
o absurdo acontecer
enquanto rimos com um copo na mão

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Diego.

olha a lua dependurada no teu umbigo
e essas flores coloridas no teu vestido
teus olhos a toa mirando horizontes e nuvens brancas
olha teu sorriso de quem dança com o vento na varanda
a malícia das morenas que sempre erram na dose
de amor e veneno
tua sombra nua na parede do quarto
silhuetas sinceras
de quem não leva nada a sério
olha o contorno do teu corpo ainda morno
cheirando a shampoo e primavera
que faz o próprio tempo parar
só para te espiar
rabiscando seu nome com batom nos espelhos
barganhando com o diabo
qualquer coisa em troca de um amor
olha o sol invadindo tua janela
sem pedir licença
vendo que suas segundas intenções
não disfarçam a indecência
bordada em tua pele bronzeada
desmanchando impérios
provocando adultérios
e todo dia quando aquela coisa amanhece
dentro de você
você se culpa
mas não pede desculpas
por ser tão imoral

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Sobras de Sol.

sem muito esforço 
você não se preocupa em esconder tudo o que sente
dentro de seu peito 
como uma flor que desabrocha toda vez que vê o sol
de mão beijada
você se entrega 
com a inocência de uma criança cega
e rasteja atrás de qualquer resquício de paixão
talvez uma tarde mansa 
um filme
um carinho
uma cerveja
lhe caísse bem
alguém que entenda sobre mulheres profundas 
e intensas 
pra te deixar á vontade em frente ao espelho
há um preço alto pra quem ama caras rasos demais
e você sabe bem
amores tranquilos quase não existem mais
há quem te perca sem nunca ter te encontrado
é que você transborda sempre dentro de você mesmo
e inunda essa gente
que não te entende
em mulheres inteiras
não faltam pedaços
mas acredite  
que em seu coração há amor suficiente
pra amar o mundo inteiro
palmo a palmo
e não desperdice
esse amor
com quem não esta pronto pra ser amado
pois amor é item raro
em tempos de sentimentos descartáveis

segunda-feira, 30 de março de 2020

Brutus.

embala mais um sonho
enche mais um pino de vinte
a marca do seu batom continua na sarjeta
seus beijos gravados nas calçadas
ainda sinto seu cheiro nos lençóis sujos do inferno
e recordo com os olhos fechados
dos seus crimes mais bonitos
arquitetando golpes
fraudando corações
- o diabo também usa saia.
você  dizia
enquanto fingia que me amava
é
o crime te seduz, meu bem
á mim também
e pra quem não resiste aos sussurros da rua ao pé do ouvido
até que você se saiu muitíssimo bem
a verdade é que não existe passado
pra quem não vive um presente inconsequente
e eu lembro do sexo
misturado com uísque e desespero
de você nua em pele
e pelo
contando dinheiro
filosofando sobre vaidade e bandidagem
pois é
como minha mãe sempre diz
"o mundo é dos ativos"
e ninguém liga se hoje a sua vida ta na mão de algum juiz
e a minha é resumida pelas ressonâncias magnéticas que eu fiz
nem sempre o mundo é  justo, nega
e a gente cumpre penas diferentes
pelo mesmo crime

quarta-feira, 25 de março de 2020

Filesbina.

guarde suas certezas
no fundo da gaveta de calcinhas
se prepare para ver os fogos de artifícios
o último show pirotécnico
das comemorações apocalípticas
o passado é um remendo mal feito
na sua calça jeans preferida
e não adianta procurar significados profundos
em qualquer coisa idiota que te acontece
eu já te disse
que os melhores filósofos estão nos botecos
e que reciprocidade só existe no meia nove
você ri
e eu gosto do teu sorriso
você aproxima as semelhanças entre o gozo
e o riso
e existem um punhado de coisas óbvias no seu reflexo
estampado no espelho
tetas
e pelos
tudo que você é
sempre foi
e sempre será
teu nome escrito na cauda de um cometa qualquer
orbitando em algum lugar na puta que pariu
sempre ao lado oposto do sol
como  se fosse uma estrela morta
suja e fria
mas ainda assim é tão bonita...

domingo, 22 de março de 2020

Damázio.

seus traços são incompreendidos
sua beleza escondida 
por baixo dos panos
você me mostra suas feridas
de guerras, de amores
de vida
e sem nenhuma delicadeza
você vasculha meu peito
atrás de coisas que ninguém entende
vestígios das viagens antigas de psicotrópicos
entre outras merdas ingeridas 
na adolescência
paixões e brigas 
de porta de escola
é, a gente aprende com o tempo
á mascarar os medos
enganar os sofrimentos com cerveja
e até a chupar direito uma boceta
dai você olha dentro da porra dos meus olhos cínicos e diz:
- tudo é lição, querido.
e eu penso
que não vale a pena ser poeta por isso
por que quem não ama
ta por ai tomando no cu
atrás de droga
sexo ou dinheiro
é que você sempre fala
fala
e nunca diz  nada
me deixa confuso
depois esfrega seu rabo sujo
na minha cara  
e vai embora
pelo lado mais escuro
da calçada

sexta-feira, 20 de março de 2020

Hoje o Cordeio Não Será Sacrificado.

eles exaltam a servidão
como se fosse um passaporte falso 
pro paraíso chato de todo cristão
espalham o medo
exploram a miséria
e a ignorância
enquanto enchem os bolsos de dinheiro
cada fiel é um cifrão
pregam sobre obediência
fingem intimidade com cristo
mas falam demais sobre satanás
pecados e castidade
fabricando servos
adulterando salmos 
cobrando caro pra salvar almas
estelionatários 
auto-proclamados homens sagrados
que faturam alto
no leilão dos milagres
as igrejas estão lotadas
dessa gente que enxerga
mas são deficientes visuais
julgam e tramam golpes lucrativos pra depois do fim do mundo
encenam seus teatros medonhos
de cima dos seus púlpitos
entretêm o público vendado
nesse show bizarro
que chamam de culto
e são tantos Malafaia's
e bispos Macedo's
que até deus esconde sua carteira
com medo 
de ser assaltado

quinta-feira, 19 de março de 2020

Um Império Xing-Ling.

todos os sentidos foram adulterados
todos os naipes desse baralho estão marcados
o jogo é sujo, meu bem
mas só se corrompe quem assiste tv
cuidado com notícias cortantes e inescrupulosas
não saia de casa
a não ser pra ir a igreja
porque só deus  pode nessa nossa causa
e não se esqueça de pagar o dízimo
você não precisa de dinheiro
seu pastor precisa
leia de novo o apocalipse
renove seu desespero
e agonia
aperte a mão do nosso presidente
ele não ta doente
estoque muito álcool em gel
qualquer gripe é vírus
a economia mundial esta em crise
feche as janelas
tranque as portas
malditos chineses!
quaresma
quarentena
corona era cerveja
agora é pandemia
é o fim dos tempos
ta na bíblia
a culpa é do lula
comunista safado
mas caso jesus estiver voltando até sábado
eu rezo pra que deixem abertas as biqueiras
e alguns bares da minha cidade
porque passar o juízo final de cara
é pecado.

quarta-feira, 18 de março de 2020

O Binóculo da Laurinha.

dos sambas obscuros
das madrugadas longas demais
das orgias irresponsáveis 
em quartos escuros tingidos de sombra
sim, eu me lembro de tudo
tudo
de cada feição alterada
de cada trepada mal dada
das luzes possuídas dos letreiros
e dos viciados de plantão  nas esquinas
a cidade de ponta cabeça
a loucura esquizofrênica de todo semáforo
das almas perdidas nos bares
e prostitutas banguelas 
dos deliverys de cocaína e sexo
como eu poderia me esquecer
dos assaltos
dos beijos amargos
dos carros roubados
do Renan
e do Cigano
daquela minha ex que nem o diabo pronuncia seu nome
eu me lembro do tempo 
escorrendo pelos ponteiros do relógio
do medo da solidão
de dst
e de cadeia
me lembro de toda brincadeira
na beira do abismo
e do fogo imoral do suicídio
só pra sentir a vida
pois só é vivo quem morre
ou ama
uma vez ou mais

terça-feira, 17 de março de 2020

Céu Azul Janela Transparente.

de repente você nasceu em mim
como um sol nervoso e radioativo
que brota na boca do estômago
ressuscitando um desejo
intenso
uma vontade estúpida de te conhecer por dentro
espalhando todas as minhas certezas
pelo chão da sala
trapaceando nesse jogo idiota que alguns chamam
de amor
cruzando as pernas
fazendo charme
manchando copos e baganas com seu batom
vermelho alarme
se ajeitando no espelho do corredor
testando minha libido
com seu sorriso esotérico
seu corpo envolvido em fumaça
e  mistério
blefando sobre apocalipses
filosofia
e sexo sem camisinha
me contando sobre outros caras
novas drogas e baladas
mas antes que você vire um poema do passado
eu sei
e você sabe
que eu não passo de um cão
que morde a mão que me afaga

segunda-feira, 16 de março de 2020

Porta-Bandeira.

a lua desmaia debaixo do seu travesseiro
e um céu noturno se estende
no teto do seu quarto
escuro
pintado com o brilho de milhões de estrelas mortas
e todas as coisas bonitas do lado de fora da sua janela
adormecidas na palma de sua mão
nessas madrugadas quentes de verão
quando o sono demora a chegar
e você não resiste a esse instinto profano
que existe dentro de toda mulher
que desarruma seus segredos
perambula entre seus desejos
atiça sua pele
ouriça os bicos de seus seios
e brinca com seu prazer
talvez a vida real 
seja apenas um sonho longo
talvez o amor
seja uma brincadeira de mau gosto 
de um deus obsceno
talvez a gente só exista na mente de algum alienígena bêbado
caído por aí
que assiste as siriricas que você bate
toda noite antes de dormir
ou talvez o universo
plante uma semente de alegria
em meu umbigo
toda vez que você da um sorriso...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Não Pire.

duvide de quem diz
que só é feliz quem namora
guarde todas as ilusões que te restaram
na gaveta da penteadeira
esconda tudo que te machucou
no fundo de seu peito
quando te faltar alguém 
pra dizer que você fica bonita com aquele vestido
tome um porre sozinha
ou seja Eva e morda o fruto proibido
seja flor
seja pedra
seja mulher
ou o que quiser
chore
ou borde toalhinhas com o nome do teu ex
sonhe com casamento
filhos
e um quintal 
ou viva e morra na putaria do carnaval
esqueça das transas do passado
ou anote todas em seu diário
brigue com o espelho
ou beije suas amigas no banheiro da boate
não se preocupa com o que disse
a vidente da sua rua
se entregue
ou se derrame
tanto faz
mas baby,
não se mate
nem por amor
nem por besteira
e muito menos por vaidade

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Atenção Menina.

você se debruça noite após noite
na minha esteira imaginária
passeia entre meus sonhos 
onde acontecem fatos espetaculares
quando profetizo palavras encantadas
toda vez que imagino seu corpo
mágico
encostando no meu
sussurrando seu sotaque em meu ouvido
sempre atento
a todas suas queixas
seus dramas
em todo esse amor que transborda
pelos os porós
da sua pele
negra
e quando você mergulha no medo
de não ser amada
você se esquece que 
toda vez que uma divindade chora
um anjo morre
na tua calçada
no espelho você é uma Oxum
enfeitada e deslumbrante
caprichosamente delicada
á procura de mil paixões eternas
disposta a se entregar inteira 
uma a uma como se fosse a primeira
é que corre em tuas veias sagradas
uma fonte infinita de sensibilidades
e em tuas mãos há somente carinhos 
e carícias
em alguns momentos
você é como uma Vênus
que eu só vejo
de olhos fechados
tão longe
e tão perto ao mesmo tempo

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Caleidoscópio.

ela disse que lê o Bauman
e que seus desejos são quase todos líquidos
as vezes ela mente que sua vó era cigana 
e se perde nas linhas de qualquer mão 
me contou que um amigo seu morreu de overdose
e que teve uma prima que se matou
- depressão
ela diz
e conta nos dedos quantos caras amou
tem um gato que chama Marrom
e uma samambaia de estimação
no calor ela dorme nua
gosta de Caetano
e de homens comuns
ela disse que tentou frequentar a igreja
mas nunca conseguiu entender deus
disse que sempre da esmolas 
que não quer ser mãe
e que não acredita no João Bidu
ela ri das axilas brancas dos comerciais de cosméticos
e se imagina com silicone 
- quem sabe um dia
ela diz 
reclama do trânsito
das músicas que toca na rádio
e das parangas bicadas de maconha
por isso guarda suas baganas num estojo velho de escola
ela tem medo da solidão
e sempre pede pra eu demorar pra ir embora
- fica mais um pouco.
ela diz

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Vanderlice.

a luz calma do teu abajur quase não esconde
seus delírios de criança perdida
seu instinto de fêmea
que prefere amor á aspirina
as minúcias do seu corpo 
essas coisas que você só descobre sozinha 
na hora do banho
e quando você perde tempo sonhando acordada
ou fazendo o mapa astral de meia-dúzia de caras 
que você gosta
se preocupa com o futuro
com as queimadas da Amazônia
e com o final da novela                   
mas quando esta com tédio
pinta as unhas assistindo sessão da  tarde
ou bate siririca 
vendo algum pornô lésbico
tem medo do mistério
e não se arrisca a dizer que deus não existe
e mesmo que não tenha certeza
de nada
ainda busca alguma realidade nos contos de fadas
deseja seu príncipe encantado
e tem um fetiche secreto 
por anões dotados

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Clã do Djavan.

se esparrama pela cama de outros caras
como se fosse uma gata
no cio
desmanchando seu futuro promissor
a cada pino
de cocaína
revezando homens e sapatos
amigas e comprimidos
colecionando ressacas
doenças venéreas
e noites mal dormidas
barganha amores verdadeiros
por trepadas sem prazer em banheiros sujos
dispensa conselhos
senhora de si mesmo
pinta o cabelo
de vermelho
e desfila com classe
por entre mesas de bares
tem gente que te chama de promíscua
eu te chamo de artista
que assovia canções que ninguém conhece
e distribui mil cheques
sem fundos
por ai
as vezes te vejo
como se fosse uma deusa
presa
num frasco pequeno
de carma, pecados e veneno

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Xumbrega.

é que a sua beleza
ofende
e causa verdadeiros escândalos aos olhos
de quem não te entende
essa sua coisa bêbada e exagerada
largada no sofá só de calcinha
imponente como uma rainha velha
me fascina a retina
quando te enxergo nos mínimos detalhes
seu sorriso cintilante
sendo vulgar de propósito
só pra não me mostrar seu lado doce
escondendo seu pedaços mais bonitos do espelho
quebrando copos
e fingindo desespero
rindo de tudo
tudo
imaginando absurdos
sobre extraterrestres
e meteoritos prestes a nos explodir
e quando você me diz
que alguns homens te fizeram feliz
e outros te fizeram mulher
eu já saquei
que esse é seu jeito cauteloso
de se preparar
pra me amar
de novo

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O Lado Mais Escuro da Pracinha.

oh minha adorada santa do pau oco
não se esqueça de nossos pecados cometidos
da depravação explícita
da fornicação exagerada
dos sambas de madrugada
oh minha deusa pagã
sua sombra quente ainda está em minha parede
eu soube que seu anjo da guarda te abandonou
sua indecência sempre estampada na cor do teu batom
oh minha rainha diaba
padroeira dos trombadinhas
das garotas de programa
e  das travestis
oh minha musa devassa
minha Vera Fischer degenerada
iluminada por luzes de neon
dos puteiros falidos
que prefere a luxúria
ao tédio das noites cristãs
oh minha dama das esquinas
o cheiro do seu perfume barato nunca saiu de mim
nem a recordação do sexo no jardim
oh minha Cleópatra envenenada
seu sorriso diabólico
faz meu coração bater em sentido anti-horário
e eu ainda acredito
em qualquer mentira bonita
que você vomita
em meus ouvidos

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Quarto Crescente.

uma vez ela me disse que era uma mulher difícil
que seu coração havia sido forjado em cacos de vidro
e que nas noites que passava sozinha
ela até pensava em suicídio
mas ela era apenas uma bailarina
que gostava de dançar na beira de qualquer precipício que encontrasse por aí
sem medo da morte
as vezes ela desafiava a sorte
ignorava os semáforos
ou se envolvia com homens de signos opostos
ao seu
as vezes ela fazia questão de parecer invisível
feito um quadro colorido
jogado numa lata de lixo
ela encenava filmes americanos na frente do espelho
como se fosse uma Angelina Jolie
alcoólatra
e se emperiquitava toda pra ficar em casa
ela gostava de ficar na varanda
era sua maneira de se apresentar ao universo
na sua decadência artística
ela era só outra atriz sem talento
que tinha tudo pra dar certo
mas não deu
uma vez ela me disse que sua vida foi como um sonho
que ela não viveu

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Brisola.

a vida é boa meu amigo
mas não se deve acreditar em manchetes de jornais
ou capas de revistas
há sempre botecos abertos
servindo infinitas cervejas estupidamente geladas
existem outras mulheres
e sempre existirão
umas mais
outras menos
amáveis do que nossas ex
há ainda tantas madrugadas
com todas as fases da lua
pra vislumbrar nossas loucuras
veja bem meu amigo
a beleza que há nessas tardes quentes de quase verão
e não se esqueça
que sempre haverá duas garotas ansiosas nos esperando em algum lugar
e mesmo que você me chame de cínico
porque eu só bebo e não dirijo
mesmo que seu relógio tenha horas demais
e a gente se perca por tantas estradas estranhas
entre os ascendentes em escorpião
e a casa do caralho
mesmo que nossa farra dure uma semana
e a gente não saiba mais distinguir o que é real e o que é fantasia
ainda assim eu te reconheceria
feito um vagabundo
sorrindo pro mundo com um copo na mão

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Tem Troco pra Cinquenta?

é esse sorriso bordado em sua cara
é sua tara de menina nova deitada no chão da sala
é seu corpo fluorescente desenhando formas desconexas no escuro do quarto
são seus modos mal educados de quem teve pais ausentes
é essa sua desconfiança óbvia e imatura como quem nunca amou ninguém
sua curiosidade acesa sobre janelas e estrelas
é sua duvida ininterrupta sobre deus
é seu charme de felina descalça no quintal
é sua pele mística retratada por minha máquina fotográfica imaginária
são seus pelos dourados
seus erros agradáveis
todos os seus brincos perdidos por ai
é sua cor de fruta madura pronta pra ser mordida
seus baseados mal bolados
suas histórias mal contadas
é a geometria exagerada do seu corpo lindo
seus vinte e poucos anos
seus músculos
suas músicas e blusas preferidas
suas bobagens
é o tempo que você perde penteando o cabelo
sua boca pintada de batom
é tudo o que você é
essa coisa que você tem
é você meu bem...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Jhony Besteirinha.

quando a saideira nunca chega
e a gente beija o sapo
e se esquece da princesa
quando a vida é um jogo
e ela trapaceia enquanto da as cartas na mesa
quando a noite não tem fim
e eu nunca mais quero ir embora pra casa
quando minha droga não acaba
e eu sempre tenho dinheiro
quando o motel é o no banheiro
se inicia o surgimento de um novo puteiro
quando ninguém aprende nada com a ressaca
e nem se preocupa com questões filosóficas sobre o amanhã
quando qualquer vagabunda
se se torna rainha dos amaldiçoadas
eu beijo sua bunda
em sinal de respeito
quando é quase fevereiro
e já tem uma escola de samba batucando
dentro do meu peito
quando o sexo é tão bom
que o amor é um bicho sorrateiro
quando já se esta tão bêbado
que é impossível de se ficar mais bêbado
quando há prazer por tudo que é nocivo
pelo gosto de arriscar tudo quando se está vivo
quando as coisas eternas
as vezes duram uma madrugada
ou menos
é quando a gente pensa que entendeu tudo
mas na verdade
não entendeu nada

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Priscila e Joice.

estamos á salvo querida
o inferno nem sequer existe
a não ser dentro de você
e de mim
e dentro do gordão que fica sentado na esquina também
não se preocupe minha pequena
a assombração que ronda sua janela
é só o vento
te convidando pra ver o céu
e outras coisas bonitas
que você ta sempre indisposta pra enxergar
quantas vezes você deixou de ir na cozinha por ter medo do escuro?
e reza baixinho com a cabeça debaixo do edredom
sera que deus ouve suas preces infantis?
a gente sabe que não
acho que esses antidepressivos não te fazem bem
sua cabeça
as vezes parece que ta funcionando ao contrário
você não se diverti mais
passa dias enfurnada no quarto
se eu soubesse onde achar a cura
pra essa sua loucura
meu amor
te juro que eu buscaria
só pra te ver sorrir outra vez

(para um amor de 2008)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Signo ou Química?

ouça bem
o suspiro das flores
bem no pé do teu ouvido
enquanto você amanhece
com a lembrança fresca dos sonhos
que logo serão esquecidos pra sempre
não deve ser tão doloroso gostar de você
abra a janela e veja o céu
te convidando pra experimentar o dia
em tons de azuis intensos e desbotados
nenhum azul é igual
e todo amor pode ser diferente
você é tão bonita
que acende o sol quando pisca
e dorme uma estrela
toda vez que você boceja
bem de perto
sua fotografia me ensina
coisas escondidas entre suas sardas
seu signo complexo
seus mistérios de menina
me conta algum segredo que você nunca contou pra ninguém?
pra eu ir te montando
parte por parte
enquanto te como pelas beiradas
decoro teus olhos
tuas horas preferidas
primavera ou verão
enganando o tempo pra descobrir um método infalível
de ganhar teu coração

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Quinze pras Cinco.

existe um luxo controverso
no seu corpo do avesso
algo sobrenatural presente em sua pele morena
algo que não se explica
e que também não se entende
que só se admira de longe
feito um manequim na vitrine
você é intocável garota
e toda vez que eu te toco
eu peco
e sinto o gosto do inferno  escondido no seu umbigo
e como pecador reincidente
me vicio no teu brilho
no teu gozo
no teu sorriso
e nos teus olhares latentes
as vezes tua imagem congela na minha mente
e te imagino como uma santa
de gesso
chorando sangue
imóvel num altar
cercada de fiéis
aos teus pés
gritando
- milagre

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Jesualdo Macarena.

alguns recomendam a bíblia
me pedem calma e correm quando rola briga
outros dizem pra eu desacelerar meus corres
enquanto fazem pose de mau com a arma descarregada na frente do espelho
tem uns que só aparecem pra me ajudar á embalar droga
afundam seus narizes
depois somem
uns dão palpites demais
e se esquecem que quem fala demais da bom dia a cavalo
quando eu travo
todo mundo é meu amigo
é isso e aquilo
tem gente que sabe que eu não mudei nada
sou o mesmo moleque vadio dos sambas no circulo operário
tramando contra o mundo
e trepando com todo mundo
mas quando eu bebo demais
ninguém entende nada do que eu falo
alguns me conhecem desde a época dos assaltos
e dos roubos de carro
dos rolês de skate
e da pichação
alguns me desconhecem
ao me verem sequelado na pista
cheio de flagrante em cima
sorrindo como cínico
mas é como a música do Gil
"quem sabe de mim, sou eu"
sobre as películas de vida real
minha vida é um filme de Neville
e quanto as mulheres
umas preferem o crime
outras a poesia

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Rua México.

tinha a puta inglesa
que não tomava banho e cheirava mal
que tinha deixado um filho na Inglaterra
e botava conhaque no café
ninguém nunca entendeu direito como ela veio parar no Brasil
há mulheres que são atropeladas pelo destino
outras dormem nuas na cama do acaso
mas a puta inglesa mesmo quando virava madrugadas inteiras fodendo
parecia ter tudo sob controle
cheiradora de cocaine
nunca tinha ressaca
nem se desesperava
a puta inglesa nunca chorava
nem se arrependia
ou amava
exímia chupadora de paus
desperdiçava sua elegância européia
desfilando semi-nua por entre as mesas dos piores inferninhos da cidade
balançando seu rabo branco
pra lá e pra cá
com a loucura de seus olhos ferozes sempre anestesiados
sonhando com Londres
suja e fria,
a puta inglesa nunca sorria...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

ANPACA.

meu corpo ainda transborda
versos, paixões e veneno
é que meu olho não descansa nunca
fica á espreitar fechaduras, decotes
e o entra e sai de banheiros pintados de branco 
desabafo cochichando meus segredos ao vento
renuncio ao tempo 
como um vadio autêntico
desvio das horas
e dos ponteiros do relógio
aceito que amores são intensos por natureza
e que não há remendo que  cure a dor de um desamor
mas se hoje to vivo
é porque quase morri em dois mil e nove
de tiro, faca, acidente de carro ou suicídio
nem sempre os meios justificam os fins
e foram tantas as vezes
que  tirei o véu da noite
só pra ver a lua cheia
e eu que só ando perdido
sem nunca querer me encontrar
continuo bebendo demais
pra acalmar esse animal que mora dentro de mim