Sula Miranda.

foram umas doze cervejas
mais ou menos
e um pedaço daquele ácido
pra te descobrir ingênua
feito uma adolescente esperando o ônibus
que demora a chegar
você muda
de acordo com a lua
e se prepara para o fim do mundo
passa batom e maquiagem
renega o paraíso e cai na vadiagem comigo
menina
que ama o risco e brinca na beira do abismo
se disfarça de mulher
quando não quer pagar a conta do bar
e sempre planta um punhado de ilusões na minha cabeça
de lunático fugido do hospício
que fica esperando pelo seu beijo na calçada

Picuira.

admiro seu sorriso cínico
seu jeito manso de foder com minha vida
daí tem seus traços
seus seios
seus abraços
suas tatuagens espalhadas pelo teu corpo
e tudo que cê faz na frente do  espelho
de noite você me convence que o amanhã demora demais
e a madrugada corre lenta pelos teus pelos
é que no teu relógio biológico
o tempo passa diferente
decoro tudo em você
seus passos
orgasmos e suas mentiras esfarrapadas
morro de medo de você morrer cedo
e recomendo que se algum dia você estiver dirigindo bêbada
se por acaso atropelar um cachorro
tenha a decência de  prestar socorro
enquanto você muda meu mundo sem querer
eu te espero no sofá com o cabelo penteado pro lado
só pra você me achar bonito

Felisbino.

sou feito de cicatrizes
boletins de ocorrências
sequelas e histórias mal contadas
meu cheiro é bom
mas amo do jeito errado
ao contrário
sempre exagero na bebida
invento madrugadas e paixões de carnaval
sou feito de poesia
mas não sou poeta
já me meti em muita briga de torcida
já fugi da polícia
já me perdi nas coxas de mulheres dissimuladas
não minto por capricho
mas por necessidade
por vaidade
eu tinha um revólver escondido no banheiro do meu quarto
sou imoral
obcecado pelo céu
astros, estrelas
e drogas sintéticas
já escrevi nomes de namoradas com giz em mesas de bilhar
me apaixono pelos gostos
sorrisos
seios e temperos
me fascinam essas meninas que amam livros e
animais
porém, não me conheço
sou um mistério pra mim mesmo
tem coisas em mim que nem minha ressonância explica
já fui bandido
suicida
mas nunca depressivo
e se hoje pensam que to fodido
eu digo que acabei de nascer
sou apenas um menino
e quero tudo pra sempre

Diafragma.

você me prometia coisas que duravam só até o amanhecer
depois vestia a calcinha e ia embora
rindo com uma lata  de cerveja na mão
na verdade você me prometia quase nada
mas seu  pouco já me bastava
as vezes a gente se encontrava de final de semana
e enchíamos o cu de droga
juntos
e passávamos 2 ou 3 dias
na putaria intensa
das chácaras perdidas nas esquinas do universo
e eu te achava incrivelmente bonita
com seu ar de menina revoltada
que exige ser emancipada pelos pais
e insistia em amar só quem não te amava
as vezes você chorava
por tristeza
depressão
ou sei lá o que você escondia dentro de você
eu planejava ficar rico com o tráfico de cocaína
e te levar pra Cuba comigo
só pra te ver feliz
usando biquíni o ano inteiro
brilhando sob o sol intenso da América Latina

Santa Edwiges.

pouco importa os seus medos
ou traumas de amores do passado
não te falo sobre meu suicídio que deu errado
nem das confusões da época de ouro dos assaltos
e dos roubos de carros
acontece que eu bebo e amo demais
pois é querida
não sou o cara dos sonhos de garota nenhuma
passo noites em claro estudando seus seios
e seu sorriso
imaginando coisas bonitas
relacionadas a sexo e cerveja
não me importa o quanto seus ex-namorados foderam seu psicológico
nem se você fede depois de trepar
ou se você tem fetiches bissexuais
me mostra o que você vê quando se olha no espelho
as coisas que fazem seu coração bater diferente
que eu não ligo de correr perigo
só preciso que me conte o que sonhou na noite passada
que te levo comigo
pra dar um passeio na beira do meu abismo

Laura Cardoso.

deixa de lado esse teu pudor cristão

e senta no meu colo sem roupas

tome um porre e me liga de madrugada

só pra me xingar e dizer que me ama

fode comigo no pelo

me chame pra roubar um mercadinho

se sentir vontade de chorar e não quiser que eu veja

chore  no banheiro

me peça dinheiro emprestado

e não pague

me conquiste cruzando as pernas no sofá

mande fotos com as tetas de fora

quando não tiver mais assunto

me beije

senta na minha cara

e enche minha alma com a sua risada

deixe bilhetinhos pendurados na porta da geladeira

bagunce meus livros

e minha vida

me dê prejuízos

queime minhas roupas com a brasa das baganas  incendiárias

aborte nossos filhos

se quiser

enfie até o dedo no meu cu

mas não não brinque com a porra do meu coração

Eva Wilma.

é que seus olhos florescem no meu subconsciente

eu tento  esconder meu lado porra-loca

pra não te assustar

te apresento meu lado vulgar

com a sutileza de um homem apaixonado

finjo inocência

minto que bebo pouco

digo que não uso drogas

nego meus antecedentes criminais

e faço planos infalíveis e dissimulados

pra te  conquistar

viro teu escravo

teu capacho

arranjo trabalho

e não te largo nunca mais

só pra te fazer sorrir 

dedico poesias com teu  nome

capricho nas preliminares

e abandono o tráfico

durmo cedo

paro de mentir

te faço um filho

muito mais que isso

te dou num pacotinho embrulhado pra  presente

todo o amor do mundo

com flores e chocolate

Kate Moss.

você me ensinava sobre o prazer das mulheres
sobre siriricas e beijos no pescoço
você tinha o mundo na palma da mão
e escorria plena pelas madrugadas
com um sol adormecido dentro da calcinha
as vezes a gente conversava sobre o amor
e você tinha um jeito depravado de amar
reclamava quando eu demorava pra responder suas mensagens
depois me esquecia num porta retrato na escrivaninha
e toda vez que a gente se beijava
você pegava no meu pau pra ver se tava duro
acho que esse era seu termômetro
pra medir se as coisas entre nós estavam bem
com seus 20 e poucos anos
suas drogas escondidas na bolsa
e a mensalidade da faculdade sempre atrasada
perdida no meu mapa astral
com milhões de perguntas sem respostas
depilada
maquiada
você reinava soberana
nas minhas pupilas dilatadas pelo ácido

Sofia Coppola.

te viraria do avesso só pra
descobrir suas dobras escondidas
suas minúsculas cicatrizes perdidas por aí
esses detalhes que outros caras não conseguem enxergar
mas que fique claro
que não que não estou atrás
da sua paz
nem dos seus sujos segredos
te reviraria em busca de algo que talvez nem exista ainda
nas sobras do seu corpo
esparramado pelo sofá
no cheiro do seu cabelo impregnado no travesseiro
na sua silhueta nua na parede do quarto
nas coisas que você esconde dos seus pais
e me perderia no contorno bonito do seu sorriso
sem os remorsos corriqueiros dos romances de hoje em dia
mediria o tamanho dos seus sonhos de palmo á palmo
só pra te dizer que talvez o amor ainda exista
e te mostrar como o céu da Boa Vista
é bonito visto da minha janela

Leila Diniz.

engoliu o choro

e dolorosamente renegou o amor

encontrou no espelho

seu melhor parceiro

perfumada

saiu sozinha pra dançar

fez novas tatuagens

descobriu seu prazer na ponta do dedo

por medo e precaução

não amou de novo

não se deu ao luxo de sofrer por outro homem

mas se assustava com sua beleza escandalosa depois do banho

e dizia pra si mesma

- porra, como eu sou gostosa

depois lamentava seu péssimo gosto

em amar só caras errados

achava graça

da sua própria desgraça

mas lá no fundo seu único desejo

era ser amada com a mesma intensidade que amava

- reciprocidade existe?

ela se perguntava

culpando o destino 

e adiando seu suicídio pro próximo domingo

Marisa Orth.

há essas mulheres feitas de curvas sinuosas

sorrisos debochados

e traços grossos

queimando por dentro

amando em combustão

desenhando seus nomes no boxe do banheiro

contam suas mentiras coloridas
sussurradas no pé d'ouvido
essas mulheres de fartos decotes
e flores no umbigo
dos beijos ardidos
que se molham de desejo
das mãos cheias de carinho
dos olhos perdidos nas janelas
carregam o verão no ventre
e quando viradas do avesso
são brasas que ninguém apaga
essas mulheres cheias de mistério, carne e magia
debruçadas nos meus sonhos de menino
como deusas profanas
escondidas atrás das cortinas
espiando meus deslizes
meus pecados
meus vacilos...

Beth Faria.

profanei teus sonhos

cochichando sacanagens com a boca no teu umbigo

fui feliz nas dobras generosas do teu corpo bagunçado

seus pedaços mais bonitos espalhados pelo quarto

seu reflexo nu pelo reflexo no espelho do guarda-roupas embutido

seu coração em migalhas

esquecido por outro cara na Pedro Amaral

fui eu que provei teu sal

teus porres

teu inferno astral

teu sangue no meu lençol

teu período fértil

florescendo plena pelas primaveras de azulejos coloridos

fui eu...