sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Barbara e a Chave de Fenda.

Barbara e eu dividíamos as mesmas baganas
os mesmos cigarros
mijávamos um do lado do outro atrás dos carros na rua
ela dizia abaixada com a calcinha no tornozelo:
- Segura minha mão que to bêbada, vou cai.
eu dava a mão pra ela e falava:
- Segura meu pau que eu to bêbado ele pode cai.
a gente ria enquanto ela chacoalhava meu pinto
Barbara conhecia de mim só a parte que ela queria conhecer
ela não cheirava
não gostava de armas
Barbara era inteligente o bastante
para acreditar em deus
ela gostava de estar junto
envolvida em farras
de ir comigo no corre de maconha
eu sempre arrumava amigos do crime pra ela transar
ela sempre arrumava amigas ricas pra eu comer também
era fácil se acostumar com ela
Barbara tava sempre sorrindo
com baseados prontos no bolso
Barbara sempre cheirando bem
com uns trocados pra cerveja
as vezes ela me ligava no meio da noite:
- Onde cê ta cachorro? tem vadia ai né? ta me traindo né.
eu ria um monte e meia hora depois eu e quem estivesse comigo
tava no carro dela
Barbara cativou meu mundo
ela aparecia transbordando seu verão em cima de mim
dançando sem música
brilhando sozinha ou acompanhada
- Meu você é meu melhor amigo, só que eu não posso mosca que cê me come.
- Eu como.
um dia eu apresentei ela prum traficante
ela passou um mês na casa do Lúcio
um dia ela ligou na minha casa dizendo que ele tava batendo nela e não deixava ela ir embora
e eu tava na merda
sem cano
sem chave mixa
montei num ônibus
em frente a casa do Lúcio tinha uma oficina mecânica de um maluco que eu conhecia
pedi uma chave de fenda emprestada
chamei no portão
- Ô Lúcinho.
ninguém respondeu
pulei e entrei pela cozinha
ele tava em pé quando me viu
pude ver a Barbara chorando sentada na cama
eu gritei:
- Mano cê é loco? seu filho da puta.
ele veio pra cima
me deu um soco
eu enfiei a chave de fenda na barriga dele e tirei
fiquei com ela na mão
chamei a Barbara
ela tava em prantos
nunca tinha visto ela chorar
enquanto ela procurava a chave do carro
eu chutava a cabeça do Lúcio
controlando minha raiva pra não enfiar aquela chave de fenda no seu ouvido
no caminho de volta
eu entendia seu silêncio
parei o carro na esquina do seu prédio
ela me olhou e disse:
- sua bermuda ta suja de sangue.
peguei a chave de fenda debaixo do banco:
- Guarda isso pra lembra de mim.
ela conteve seu sorriso
e me agradeceu com os olhos manchados de lágrimas.

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